Autor: JOSÉ PEREIRA FILHO (28 de
junho de 2003)
“Honra o Senhor com tua riqueza, com as primícias dos teus rendimentos,
e os teus celeiros se encherão de trigo, teus lagares transbordarão de vinho”.
(Pv. 3. 9-10).
Segundo os dicionaristas, DÍZIMO é a décima parte do todo; e DÍZIMA,
contribuição ou imposto equivalente à décima parte do salário ou do rendimento.
Etimologicamente, esses termos têm a mesma origem. Têm significado análogos.
Quanto ao termo ‘dizimar’, empregado por certos clérigos nos púlpitos das
igrejas ao se reportarem sobre o dízimo, consideramos o seu uso inadequado. O
verbo (ação) dizimar significa destruir, exterminar.
Matematicamente, dízimo corresponde a 10% (dez por cento) do todo, isto
é, 10 de cada 100 unidades. O dízimo a que se refere a Bíblia quer dizer a
mesma coisa: 10 de cada 100 unidades. Geralmente ligamos o dízimo bíblico ao
nosso salário (ordenado; vencimentos), correspondendo a 10% (dez por cento) do
salário bruto e ou de qualquer outra vantagem pecuniária recebida. Já a ‘dízima
periódica’ que estudamos em matemática nada tem a ver com o dízimo aqui
tratado.
Para os cristãos, o dízimo é uma instituição divina que consiste em
disponibilizarmos ao Senhor a décima parte de tudo aquilo que produzimos ou
ganhamos, para manutenção de Casa de Deus. Assim, tal não se aplica somente ao
dinheiro. Os fariseus, por exemplo, davam o dízimo até dos produtos mais
insignificantes, como as hortaliças (Mt 23.23).
O dízimo, como uma instituição divina, vem desde a Criação, e consistia
na entrega pelo povo de Deus de suas primícias ao santuário para sustentar os
sacerdotes e levitas (Num 18.21-32), os estrangeiros, os órfãos e as viúvas (Dt
14.22-29).
O livro de Gênesis, no capítulo 4, versículos 3 a 7, fala das ofertas
trazidas ao Senhor por Caim e Abel, filhos de Adão e Eva. Eis o que diz a
Palavra de Deus a respeito das ofertas apresentadas ao Senhor por Caim e Abel:
Caim era lavrador e trouxera do fruto da terra, a sua oferta; e Abel, pastor de
ovelhas, trouxera ao Senhor das primícias do seu rebanho e da gordura deste, a
sua oferta. Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta. Quanto a Caim, de sua
oferta não se agradou o Senhor. Por que, então? Por causa do pecado que jazia à
porta de Caim; e por isso a sua oferta não agradou ao Senhor (Gn 4.6,7). O
dízimo e as ofertas que apresentamos ao Senhor devem ser frutos do amor e não,
do ódio ou da inveja. “Deus ama ao que dá com alegria” (2 Co 9.7b).
Dar o dízimo não é esmolar. Deus não é mendicante. A esmola é um ato de
generosidade do cristão para com os pobres, que é recompensado por Deus (Pv
19.17; Mt 25.35; Lc 14.12s; At 9.36; 10.2-4; 2 Co 8.2s; Hb 13.16), e o dízimo é
o ato de retribuir ao Provedor (Deus) parte daquilo que dEle recebemos.
De mais a mais, os cristãos deveriam saber que de tudo o que percebemos
ou recebemos somente noventa partes (90%) pertencem-nos, para sustento próprio
e de nossa família. A parte restante (10%) é do Senhor, e a Ele entregamos para
que haja mantimento na sua Casa. É uma forma de gratidão a Deus, pois tudo o
que temos foi Ele quem nos deu: a vida, o trabalho, a saúde etc. Eis é a razão
por que a lei estabeleceu que “o dízimo é do Senhor e santo é ao Senhor” (Lv
27.30-33).
É desnecessário dizer, mas é preciso saber, que o dízimo que recolhemos
à Casa do Senhor destina-se às obras assistenciais da Igreja, à manutenção do
Templo e também ao sustento de pastores, órfãos e viúvas pobres. Este é
preceito bíblico que não podemos ignorar.
A Bíblia diz que aos filhos de Levi era dado de todos os dízimos em
Israel por herança, pelo serviço que prestavam na tenda da congregação (Nm
18.21). O apóstolo Paulo, por sua vez, estendeu aos apóstolos e demais
serventuários da Igreja tal direito, quando escreveu: “Não sabeis vós que os
que prestam serviços sagrados do próprio templo se alimentam? E quem serve ao
altar do altar tira o seu sustento?” (1 Co 9.13). Portanto, sobre nós pesa esta
obrigação, de contribuirmos com o dízimo, não por tratar-se de um mandamento ou
imposição deste ou daquele dirigente, mas porque isso é bíblico, excetuando-se
apenas os que não têm renda ou salário.
Como dizimistas, reconhecemos que Deus é o Provedor de tudo. Para Deus,
o dízimo não se traduz apenas no dinheiro que se dá: pode ser o ombro amigo, o
amor ao próximo, uma palavra edificante, o ensino e outras coisas boas da vida.
Os fariseus entregavam o dizimo até de suas primícias, embora o fizessem, às
vezes, apenas para aparecer (Lc 11.40-42).
Sobre dízimo a Igreja Católica, no quinto mandamento ordena: “Pagar dízimo,
segundo o costume”. Não sabemos o que quer dizer a expressão ‘segundo o
costume’. Todavia, imaginamos que a Igreja Católica esteja referindo-se ao
percentual do dízimo estabelecido na Bíblia. Para outras denominações cristãs,
aí incluídas as Igrejas evangélicas, pagar (entregar/devolver) o dízimo é um
preceito bíblico do qual o crente não se pode abster, com incidência sobre tudo
o que ele recebe, a qualquer tempo e sob qualquer título. Já para os obreiros
dessas denominações – pastores, bispos, etc. – o dízimo é tido como uma
obrigação.
Quanto a mim, entendo que o dízimo é santo ao Senhor e como tal deve ser
visto pelos fiéis, uma vez que tem por finalidade manter a obra de Deus aqui na
terra. Assim sendo, entendo também que o dízimo não pode ser desviado de sua
finalidade estabelecida na Bíblia, por quem quer que seja. Quem assim proceder
será mais um CAIM, dizimado pelo próprio pecado.
Observemos o que disse o Senhor, pela boca do profeta Malaquias, aos
israelitas que retornaram do exílio da Babilônia: “Roubará o homem a Deus?
Todavia, vós me roubais e dizeis: Em que te roubamos? Nos dízimos e nas
ofertas. Com maldição sois amaldiçoados, porque a mim me roubais, vós, a nação
toda” (Ml 3.8-9). Deus tem o dízimo como uma coisa santa.
A Bíblia diz ainda que aquele que o dízimo dá com alegria, sem omissão,
será abundantemente abençoado. E, assim diz o Senhor, pelo profeta Malaquias:
“Trazei todos os dízimos à casa do Tesouro, para que haja mantimento na minha
casa; e provai-me nisto, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as
janelas do céu e não derramar sobre vós bênção sem medida” (Ml 3.10). Que
bênção!
O Senhor ordena aos que pela fé receberam o batismo que recolham o
dízimo à Casa do Tesouro para que não falte mantimento na sua Casa.
Enfim, não tenhamos o dízimo como uma obrigação, mas como um compromisso
de parte daqueles que se confessam cristãos. Sejamos fiéis em tudo, pois Deus é
sumamente fiel.
Comentários
Enviar um comentário