SOMOS CRIATURAS OU FILHOS DE DEUS?


Autor: JOSÉ PEREIRA FILHO (02/05/2015)

“Todos vós sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus, pois todos vós, que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3.26,27).
O primeiro homem – Adão – foi formado por Deus do pó da terra, que lhe soprou nas narinas o fôlego da vida, e o homem passou a ser alma vivente (Gn 2.7).
De tudo o que Deus criou, o homem é o ponto alto da criação divina. Deus delibera consigo mesmo quando decide criá-lo semelhante a si. Esta semelhança verifica-se primeiramente quanto à inteligência e vontade, que o tornam capaz de relacionar-se com Deus. Mostra-se também no domínio que Deus lhe concede em relação ao resto da criação. Assim o ser humano deve cuidar do mundo que o cerca.
No texto sagrado lemos que na criação do homem, Deus não disse apenas “Faça-se o homem”. Mas disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança, para que domine sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os répteis que rastejam sobre a terra” (Gn 1.26).
E, para formação do primeiro homem, Deus utilizou-se do pó da terra. A imagem de Deus como oleiro, que molda o homem do barro, é reforçada pelo nome dado ao ser humano (Adam) que vem da terra (Adamah). O nome coletivo Adam (Homem) torna-se depois o nome próprio do primeiro homem (cf. Gn 4.25; 5.1,3). Ainda, a imagem do oleiro exprime a inteira dependência do homem em relação ao Criador (Jr 18.1-6).
Após essa introdução, é nosso propósito esmiuçar o assunto que titula este artigo, com o fito de esclarecer algumas dúvidas porventura existentes em relação ao ser humano, como obra-prima da criação, para que fique definido se ele é “criatura”, ou se é “filho de Deus”. Pois isso tem sido motivo de preocupação entre muitos cristãos, notadamente aqueles que compõem o segmento de evangélicos, que, entre si, estão sempre questionando: O homem é “criatura”, ou “filho de Deus”? Tal questionamento até parece uma coisa sem sentido. Então, por motivos óbvios, acrescentamos àquela esta indagação: Há distinção entre ser “criatura” e ou ser “filho de Deus”? É o que veremos a seguir.
Primeiro, é preciso conhecer os significados do termo “criatura”, definidos nos dicionários consultados, tais como: (1) Criatura, s.f., todo ser criado, ente, vivente. (Dicionário escolar da língua portuguesa, compilado por Alfredo Scottini – Blumenau, SC: Todolivro Editora, 2009). (2) Criatura, s.f. 1. Qualquer coisa criada, animada ou inanimada; 2. Ser humano; 3. Pessoa que é completamente dominada ou dependente de outra; 4. Monstro. (Dicionário essencial da língua portuguesa, Luiz Antonio Sacconi – São Paulo: Atual, 2001).
Tudo bem, agora que já sabemos o significado do termo “criatura”, definido pelos dicionaristas citados, prossigamos no estudo do tema focado.
Embasado nas definições dos dicionaristas citados, e sob a ótica da criação divina relatada na Bíblia Sagrada, entendemos que o homem, em si mesmo, é “criatura”, porque foi criado pelo próprio Deus que lhe soprou nas narinas o fôlego de vida, passando a partir de então à condição de alma vivente (Gn 2.7). Alguma dúvida? Acreditamos, que não! Pois tudo condiz com a definição dos dicionaristas. De sorte que, sem medo de errar, podemos afirmar categoricamente que o ser humano (homem ou mulher) é “criatura” dependente de Deus que o criou, e também dotada de alma vivente. Poderíamos até ignorar essa afirmação por ser redundante, haja vista haver Deus criado o céu e a terra e tudo o que neles existe (Gn 1; Cl 1.16,17). Ponto.
Segundo, cumpre-nos esclarecer, conforme entendemos, o que diferencia o homem “criatura” de o homem “filho de Deus”. Sabemos que este é um questionamento predominante no meio cristão: Que diferença há entre o homem “criatura” e o homem “filho de Deus”? Respondendo, ousamos dizer que o homem “criatura” é aquele que não aceitou a Cristo como seu Senhor e Salvador, nem recebeu o batismo cristão; enquanto que “filho de Deus” é o homem que recebeu a Cristo como seu Senhor e Salvador, e por isso mesmo Deus deu-lhe o poder de ser feito filho de Deus, porque creu no seu santo nome (Jo 1.12). Portanto, o “crer” no Senhor Jesus é que faz a diferença. Assim sendo, podemos afirmar que todos os homens são “criaturas de Deus”, mas “filhos de Deus” somente aqueles que pela fé receberam a Cristo como seu Senhor e Salvador, e são guiados pelo Espírito Santo (Rm 8.14).
Para o homem tornar-se “filho de Deus” é preciso que creia no Senhor pela pregação da Palavra de Deus. Porque a fé procede da pregação, e a pregação vem da palavra de Cristo (Rm 10.14,17). Eis o que Jesus ordenou aos seus discípulos fazer, como “filhos de Deus”: “IDE POR TODO O MUNDO E PREGAI O EVANGELHO A TODA CRIATURA. QUEM CRER E FOR BATIZADO SERÁ SALVO. MAS QUEM NÃO CRER SERÁ CONDENADO” (Mc 16.15,16). Depreende-se daí que a ordem de Jesus aos seus discípulos consistia, como ainda hoje, em pregar o Evangelho a toda “criatura” (alma vivente), para que aquele que ainda não creu possa crer e, assim, converter-se ao Senhor Jesus pela fé, tornando-se “filho de Deus”.
Ademais, em João 1.12,13 está escrito: “Mas a todos que a receberam (a Luz), aos que creem em seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus; estes não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus”. Estes versículos bíblicos reforçam ainda mais o que já foi dito anteriormente: “CRIATURA”, ser humano (alma vivente) criado por Deus, que ainda não creu no santo nome de seu Filho, Jesus Cristo; e “FILHO DE DEUS”, ser humano (também alma vivente), que pela fé já aceitou a Cristo, crendo no seu nome santo, e assim feito “filho de Deus” (Jo 1.12).
Este é um assunto polêmico, sujeito às críticas e ao julgamento de seus leitores. Todavia, isso não nos incomoda. Ao homem foi dado por Deus o livre arbítrio, por isso o homem pode analisá-lo e julgá-lo como quiser e achar conveniente, aceitando-o ou não. Até mesmo porque o tema dissertado não se trata de doutrina ou coisa do gênero, mas apenas de um estudo, e como tal deve ser entendido. O que escrevemos, escrevemos conforme nosso entendimento, independentemente de qualquer influência externa. Para tanto, recorremos tão somente às Sagradas Escrituras por ser a única e exclusiva regra de fé, que deve nortear a vida de os “filhos de Deus”.
Para elucidar ainda mais o tema desenvolvido, achamos por oportuno citar o trecho da carta do apóstolo Paulo aos romanos, que diz: ‘“De fato, todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porque vocês não receberam um espírito de escravos, para de novo estarem no medo, mas receberam um espírito de filhos adotivos, por meio do qual clamamos: “Abba! Pai!” É o próprio Espírito que se une ao nosso espírito para testemunhar que somos filhos de Deus. E, se somos filhos, somos também herdeiros: herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo, uma vez que sofremos com ele para também com ele sermos glorificados”’ (Rm 8.14-17). Portanto, a vida no Espírito é que nos torna filhos e herdeiros de Deus.
Prosseguindo, convém-nos dizer que Deus não faz distinção de pessoas (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9). “Criatura” ou “Filho de Deus”, tudo é feitura das mãos de Deus. Assim, entendemos que o ser humano já nasce sob a condição de “criatura de Deus”, para só depois tornar-se “filho de Deus”, guiado pelo Espírito Santo ao crer no nome santo de Jesus pela fé depositada na Palavra que lhe foi anunciada (Jo 1.12).
Ainda, neste estudo fazemos referência apenas ao homem do ponto de vista espiritual (filho de Deus), e por extensão ao homem natural, isto é, não espiritual (criatura), que um dia retornará ao pó da terra de onde foi tirado (Gn 1.27; 2.7; 3.19). Assunto esgotado. Damos por encerrado o tema aqui tratado.
Finalmente, agradecemos a Deus o privilégio por nos ter adotado como filhos e nos tirado da condição de escravos, enviando aos nossos corações o Espírito de seu Filho que clama: “Abba, Pai!”. E, como filhos, herdeiros por Deus e co-herdeiros com Cristo (Gl 4.6,7).

Deus seja para sempre louvado! Amém.

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