A RESSURREIÇÃO DE JESUS CRISTO (João 20.1-10)



Autor: JOSÉ PEREIRA FILHO (Teresina, PI, 20/04/2014)

1. INTRODUÇÃO
O quarto Evangelho, segundo João, difere dos chamados sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) quanto aos relatos da Paixão de Jesus Cristo, ou seja, de sua morte e ressurreição, conforme capítulos 18, 19 e 20, por que os evangelhos sinóticos são mais detalhistas ao descreverem esses fatos, enquanto João os medita à luz plena do Espírito Santo e da vida da Igreja.
João apresenta tais fatos como a marcha triunfal de Jesus para o Pai: um retorno para a glória que teve, junto ao Pai, antes da criação do mundo (Jo 17.5.24).
Jesus sabe que vai morrer e conhece de que espécie de morte; caminha para ela resolutamente: Dou a minha vida... Ninguém a tira de mim... e tenho o poder da dá-la, como tenho o poder de reassumi-la (Jo 10.17-18).
O apóstolo João descreve os atos da paixão-morte-ressurreição-glorificação de Jesus da perspectiva permanente de sua cristologia gloriosa.
Constatamos clamorosas ausências na narrativa de João: a agonia de Jesus em Getsêmani (Mt 26.37-39; Mc 14.33-36; Lc 22.41-44), o beijo de Judas (Mt 26.49; Mc 14.45; Lc 22.48) e fuga dos discípulos (Mt 26.56; Mc 14.50).
João não refere a irrisão, a caçoada, as injúrias, as diversas brutalidades: escarradas, golpes com a cana, que se encontram em muitas cenas dos sinóticos (Mt 26.67,68; 27.29-30; Mc 14.65; 15.17-19; Lc 22.63-65); todavia, aparece a bofetada (gesto muito significativo, porque representa o atentado da resposta judaica à revelação de Jesus). Nem mesmo se menciona o grito de desespero: Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes? (Mt 27.46; Mc 15.34).
Lemos nos evangelhos que Jesus se revela como rei. Assim o reconhece Pilatos, fazendo-o sentar no estrado do tribunal; a inscrição na cruz declara a realeza de Jesus sob todo o universo (Mt 27.37; Mc 15.26; Lc 23.38; Jo 18.37; 19.13,14,19,22).
O evangelista nunca fala da morte de Jesus na cruz, dá-lhe outro nome: glorificação, ida e volta, trânsito, subida ao Pai, elevação. A subida de Jesus na cruz é também sua ascensão para a glória de Deus.
Jesus não vai para o Calvário como uma vítima, inerte e passiva, como o resignado que não tem outra saída senão suportar, mas caminha abraçando a cruz, com grandíssima dignidade, voluntariamente; aceita com amor sua sorte como dom vindo da mão do Pai.
Sem negar tudo que de injustiça possuem os acontecimentos da paixão, os evangelhos lhe tiram a dimensão dolorista e torturadora; viram a morte de Jesus dentro do misterioso desígnio de Deus, conforme o plano das Escrituras, e sobretudo iluminada com a poderosa luz da ressurreição.
Cada evangelista destacou uma dimensão no relato da paixão. Marcos: o contraste clamoroso dos atos; Mateus: a solene presença do Mestre para a Igreja; Lucas: a entrega do Salvador e o seguimento do discípulo. Em João a paixão se impregna de glória, descreve majestosamente a elevação de Jesus ao Pai.

2. DESENVOLVIMENTO
A ressurreição de Jesus – João faz uma apresentação teológica e catequética da história das aparições de Jesus. Sua finalidade é mostrar que Jesus glorioso sobe ao Pai para voltar e estar sempre com seus discípulos.
Todo o capítulo 20, menos o epílogo, consta de quatro cenas; configura uma unidade teológica e marca um processo bem assinalado que conclui, como feliz recapitulação, na última presença de Jesus a Tomé. Começa com uma visão à qual segue a fé: Viu e creu (v.18). Segue-se uma visão aos discípulos, que anunciam: Vimos o Senhor (v.25). Com Tomé acontece o mesmo: vê e depois crê. Mas Jesus declara: Bem aventurados aqueles que crêem sem terem visto (v.29). Esta é a mensagem central do capítulo. Vislumbramos neste capítulo o desenrolar de quatro cenas. Vejamos:
2.1. Primeira cena (Jo 20.1-10): Sepulcro vazio – Maria Madalena é a primeira testemunha da ressurreição.
2.2. Segunda cena (Jo 20.11-18): Encontro com madalena – 1) Maria Madalena é a mulher fiel. 2) Maria Madalena encarna a figura da esposa amada do Cântico dos Cânticos.3) Maria quer reter Jesus (v.17). 4) Maria recebe a grande revelação. 5) Jesus está subindo para o Pai. Não se pode detê-lo. Quando subir plenamente. Deus será Deus-Pai do todos. 6) Maria Madalena é a apóstolo dos apóstolos. Converte-se na primeira testemunha da ressurreição. Jesus a faz missionária (v.18).
2.3. Terceira cena (Jo 20.19-23): Encontro com os dez – Esta cena parte do anúncio de Maria Madalena, à qual os discípulos não dão crédito.
2.4. Quarta cena (Jo 20.24-29): Encontro com os dez e Tomé – Surpreende o realismo tão dramático e vivo da visão. O que ocorreu a Tomé é o que sucede hoje a qualquer cristão. Todo aquele que crer é bem aventurado e se faz discípulo, mesmo que não tenha visto sensivelmente. A visão de fé é o único modo de entrar em contato com Jesus.

3. CONCLUSÃO
A missão da Igreja não deve guardar nada para si, mas arrastar todos para Jesus.
Jesus quer continuar atraindo a humanidade. Para tornar efetivo esse projeto conta conosco, seus discípulos.
A Igreja missionária realiza a vontade de Jesus: lança a rede segundo sua palavra.
Também se pode afirmar que lança a rede da palavra de Jesus e recolhe uma enorme quantidade de peixes, tantos que já não podem os discípulos arrastar. A função da Igreja não é conservá-los em suas próprias redes, mais atraí-los para Jesus. Ele continua nos dizendo: Trazei-os para mim.


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