DESCONSTRUINDO A DOUTRINA DAS 7 DISPENSAÇÕES



Autor: THALYSSON DE MOURA

    1.     INTRODUÇÃO
No segundo capítulo do livro Manejando bem a Palavra da Verdade, Scofield fala:
As Escrituras dividem o tempo (o período total desde a criação de Adão até "o novo céu e a nova terra" de Ap 21.1) em sete períodos desiguais, chamados normalmente dispensações (Ef  3.2),  embora  também  sejam conhecidos como eras, séculos (Ef 2.7) ou dias, como em "dia do Senhor".
Esses períodos são separados na Bíblia por alguma mudança no método do Senhor de lidar com o gênero humano ou uma parte dele. Em relação a estas duas questões: pecado e responsabilidade do homem, cada uma das dispensações pode ser considerada como  um  novo  teste  da  natureza humana  e  cada  uma  termina  em  julgamento  do  homem,  marcando  seu fracasso  absoluto  em  todas  elas.  Cinco dessas dispensações ou períodos foram cumpridos; estamos vivendo a sexta, provavelmente próximos de seu final, e temos à nossa frente a sétima e última dispensação: o milênio. [M.B.P.V, cap.2, grifo nosso].

Ainda no cap.2 do livro, Scofield discrimina as 7 dispensações: 1. Inocência; 2. Consciência; 3. Governo Humano; 4. Promessa; 5. Lei; 6. Igreja;7. Reino. E como já vimos no artigo A TERRÍVEL MENTIRA CHAMADA DISPENSACIONALISMO, o termo Dispensação está empregado de forma incorreta, pois Dispensação significa Administração e não um período de tempo, como argumenta Scofield.

    2.     ANÁLISE DAS 7 DISPENSAÇÕES
A maioria dos erros não medíocres da Teologia, Filosofia e Ciência estão na má colocação das categorias. Não saber tratar das categorias é um erro que não pode acontecer em uma teologia séria. Como já vimos no artigo anterior A TERRÍVEL MENTIRA CHAMADA DISPENSACIONALISMO, a Teologia Dispensacionalista não é séria de maneira alguma.
Analisemos esse capítulo 2 à luz da razão e principalmente das Escrituras Sagradas:

2.1.         INOCÊNCIA E CONSCIÊNCIA

1.  Inocência. Esta dispensação se  estende  desde  a  criação  de  Adão  em Gênesis 2:7 até a expulsão do Éden. Adão, criado inocente e ignorando o bem e o mal, foi colocado no jardim do Éden com sua esposa, Eva, e foi lhe dada a  responsabilidade  de  se  privar  do  fruto  da  árvore  do conhecimento  do  bem  e  do  mal.  A  dispensação  da  inocência  resultou  no primeiro  fracasso  do  homem  e  seus  efeitos  de  longo  alcance,  muito desastrosos.  Terminou  com  o  julgamento:  "O  Senhor  pois  o  lançou  fora" (Ver Gn 1.26; Gn 2.16,17; Gn 3.6; Gn 3.22-24).
2.  Consciência. Com  a  queda,  Adão  e  Eva  adquiriram  e  transmitiram  à raça  humana  o  conhecimento do  bem  e  do  mal.  Isso deu  à  consciência  a base  para  o  correto  julgamento  moral  e,  assim,  ao  homem  foi  dada  a responsabilidade de fazer o bem e evitar o mal. O resultado da dispensação da  consciência,  do  Éden  até  o  dilúvio  (enquanto  não havia  nenhuma instituição de governo e de lei) foi que "toda a carne havia corrompido o seu  caminho  sobre  a  terra"  e  que  "a  maldade  do  homem  se  multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente". E Deus encerrou a segunda prova do homem natural com julgamento: o dilúvio. (Veja Gn 3.7,22; Gn 6.5,11,12; Gn 7.11,12, 23). [M.B.P.V., cap.2].

Muito bem. Vejamos o problema das categorias no Dispensacionalismo.
Algumas das 7 categorias dessa doutrina, ou 7 dispensações, não são espécies do mesmo gênero.
As duas primeiras dispensações podem ser consideradas espécies do mesmo gênero: Inocência e Consciência. Podem ser encaixadas na mesma categoria: Qualidades do Homem (espécie humana), pois qualidades admitem contrários. [2, cap.VII].
Podemos assim definir o gênero Conhecimento, “uma vez que conhecimento é conhecimento de alguma coisa” [2, cap. VIII]. No caso da categoria Consciência, podemos defini-la como: Conhecimento do Bem e do Mal. E Inocência, podemos definir como: Falta de conhecimento do Bem e do Mal.
Podemos dividir a história da humanidade nestas duas categorias supracitadas, pois quando saímos de uma “dispensação” entramos na outra, ou seja, abandonamos a anterior para entrar na posterior. Vimos que a primeira “dispensação” caracteriza-se pela Inocência do homem e a segunda pela perda e saída da primeira e entrada na segunda, Consciência do homem.
Mas quando entramos na terceira “dispensação”, percebemos que a segunda não é abandonada, ou seja, o homem não perde a consciência (conhecimento do bem e do mal). Então isso significa que, até hoje, nunca saímos da “segunda dispensação”. Como pode alguém que se diz Teólogo cometer um erro pueril desses?
Todas as “dispensações”, Governo Humano, Promessa, Lei, Igreja e Reino estão, na verdade, inseridas na “Dispensação da Consciência”, pois nunca saímos dela. Erro absurdo de nível mentecapto do Scofield.

2.2.         GOVERNO HUMANO
Já vimos que a entrada nesta “dispensação” não se caracteriza pela saída da outra, pois não são espécies do mesmo gênero e acontecem concomitantemente. O Governo Humano acontece ao mesmo tempo em que o homem tem o conhecimento do bem e do mal. A “Dispensação do Governo Humano” começa, segundo Scofield, com o juízo divino por meio do dilúvio da época de Noé:

3.  Governo Humano. Do terrível julgamento do dilúvio, Deus salvou oito pessoas, para  as  quais,  depois  que  as  águas  foram  serenadas,  deu  a  terra purificada e amplo poder para governá-la. Assim, Noé e seus descendentes eram responsáveis por fazê-lo. A dispensação do governo humano resultou na tentativa dos ímpios, no monte Sinai, de se tornarem independentes de Deus e terminou  com  o  julgamento  da  confusão  das  línguas.  (Veja  Gn 9.1,2; Gn 11.1-3; Gn 11.5-8) [M.B.P.V., cap.2].

É muito engraçado que a “dispensação” do Governo Humano seja um período de tão poucas informações bíblicas e seja entre o período do Dilúvio e a confusão das línguas em Babel, ou seja, entre os capítulos 7 e 11 de Gênesis. O mais engraçado é que tal “dispensação” não seja o período do governo dos Reis de Israel e Judá, nem o período dos juízes, mas seja este período no qual não vemos nenhuma relevância de governos locais ou mundiais. O que é citado na Bíblia sobre esse período é a Genealogia de Noé. O governo humano é uma genealogia?
E outra coisa interessante é que todo governo é humano. Não existem governos de animais, nem de plantas, nem de anjos ou demônios, a expressão Governo Humano é, na verdade, uma Redundância. Vimos que Deus governava o seu povo, na época dos Juízes (1Sm.8), mas tal governo era exercido pelos próprios juízes obedientes a Deus. Até o príncipe deste mundo (Satanás) opera através dos seres humanos e mesmo que haja influências espirituais, o governo terrestre sempre é humano.
Mais uma coisa, o governo humano é uma constante desde os primórdios da humanidade. Sempre houve um governo, ou uma administração humana desde Adão. Caim, primeiro filho de Adão, edificou uma cidade (Gn.4:17) e como pode existir uma cidade sem uma administração, ou seja, um Governo Humano? Abraão morava em Ur dos Caldeus e de lá saiu em direção a Canaã (Gn.11:31) e Deus promete fazer dele uma grande nação (Gn.12:2). Como podem existir cidades e nações sem governo humano? Até hoje vivemos em Governos Humanos.
O homem domina a terra desde a aurora dos tempos e há governo humano até hoje. Portanto, a humanidade sempre esteve e nunca saiu da “Dispensação do Governo Humano”.

3.3. PROMESSA
Já vimos que, realmente, saímos da “dispensação” da Inocência, entramos na da Consciência, mas uma vez que entramos na da Consciência nunca mais sairemos dela.  E a do governo humano é uma constante histórica, desde que o homem pisou na Terra é ele quem governa e não outra espécie animal nem espiritual. Agora analisemos a “Dispensação da Promessa”:

4. Promessa. Depois da dispensação dos construtores da torre de Babel, Deus chamou um homem, Abrão, com o qual ele fez uma aliança. Algumas das promessas feitas a Abrão e a seus descendentes são puramente gratuitas e incondicionais.  Elas também foram ou serão literalmente cumpridas. Outras promessas são condicionadas à fé e à obediência dos israelitas. Cada uma dessas condições foi violada, e a dispensação da promessa resultou no fracasso de Israel e terminou com o julgamento do cativeiro no Egito. [M.B.P.V., cap.2].


Notamos também que esta “dispensação” não é espécie do mesmo gênero das outras. E que sempre existiram promessas ao povo de Deus, desde Adão e Eva, a promessa da semente da mulher (Jesus) que esmagaria a cabeça da Serpente (Satanás) (Gn.3:15), promessas existiam contidas na Lei, nos Salmos e nos Profetas (Lc.24:44) que foram cumpridas em Jesus e as promessas que temos hoje acerca do que virá. A Igreja de Cristo, até hoje, tem promessas. Promessa de batismo com o Espírito Santo e com o fogo, promessa de milagres e a principal é a da Segunda Vinda de Jesus para arrebatar a Sua Igreja. Então esta categoria de Promessa não é uma categoria que se aplica apenas a um período da história do povo de Deus, mas também é uma constante presente em todas as épocas.

3.4. LEI

5. Lei. Uma  vez  mais  a  graça  de  Deus  veio  para  ajudar  o  homem desamparado e libertar o povo escolhido das mãos do opressor. No deserto do  Sinai,  ele  lhes  apresentou  o  convênio  da  lei.  Ao invés  de  rogar humildemente  pela  continuidade  de  uma  relação  de  graça,  responderam insolentemente: "Tudo o que o SENHOR tem falado, faremos". A história de Israel no deserto é um longo registro da violação flagrante e persistente da lei e, no final, depois de muitas advertências,  Deus encerrou essa prova com julgamento: primeiro Israel e depois Judá foram retirados de sua terra em uma dispersão que ainda perdura. Um débil remanescente retornou em Esdras e Neemias, de quem, no seu devido tempo, veio Cristo: "nascido de mulher, nascido sob a lei". Tanto judeus quanto gentios conspiraram para crucificá-lo. (Veja Êx 19.1-8; 2 Rs 17.1-18; 2 Rs 25.1-11; At 2.22,23; At 7.51,52; Rm 3.19,20; Rm 10.5; G13.10) [M.B.P.V., cap.2].

A Lei é a “dispensação” que veio por intermédio do profeta Moisés, depois de libertar o povo do Egito.
Uma Lei Divina sempre existiu, desde Adão e Eva:
a)    E o SENHOR Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn.2:16,17);
b)    E Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus e sobre todo animal que rasteja sobre a terra” (Gn.1:28);
  Este último mandamento foi negligenciado pelo povo em Babel (Gn.11:4).
Vimos o juízo divino sobre a Terra, na época de Noé, o povo era pecador (Gn.6) e também o juízo sobre as cidades de Sodoma e Gomorra (Gn.19).
Abraão diz a Abimeleque e a Faraó que Sara é sua irmã: Deus promete matar Abimeleque se coabitasse com a esposa de Abraão (Gn.20:3). Puniu o SENHOR a Faraó com grandes pragas, por causa da esposa de Abraão (Gn12:17). Isaque, a exemplo do pai, também diz a Abimeleque que Rebeca é sua irmã e este sabia que sofreriam grande castigo se coabitassem com ela (Gn.26:10).
Mesmo antes da Lei mosaica havia uma Lei Divina Informal, pois já haviam pecados e juízo. O Apóstolo Paulo diz que só existe pecado porque existe lei (Rm.7) e se já existia pecado antes de Moisés é porque já existiam mandamentos divinos.
O período chamado Lei é o período formal em que a Lei foi outorgada por Deus. Os 10 Mandamentos foram escritos por Seu próprio dedo (Ex.24:12; 31:18; 32:15,16; Dt.4:13; 5:22) e os outros preceitos foram revelados a Seu servo Moisés. E todas as coisas da Lei Mosaica eram sombra e símbolos das coisas que se concretizariam em Cristo, o único que obedeceu a Lei por completo e nunca pecou (Hb.4:15). Jesus não veio para revogar a Lei, mas cumpri-la (Mt.5:17). Porém, a Lei só vigorou até João Batista (Lc.16:16). Jesus apesar de cumprir toda a Lei, depois de Sua morte, a aboliu, “aboliu, na sua carne, a Lei dos mandamentos na forma de ordenanças, para que dos dois criasse, em si mesmo, um novo homem, fazendo a paz” (Ef.2:15).
Muitas coisas da Lei se tornaram obsoletas e o que era chamado de Antiga Aliança, com a morte de Cristo, se tornou Nova Aliança, pois para que o Novo Testamento se tornasse válido, deveria haver a morte do Testador (Hb.9:17). Então o período da Lei durou de Moisés até João Batista (Lc.16:16).
E como vimos nas outras “dispensações”, a Lei não é espécie do mesmo gênero que as outras. A Consciência, o Governo Humano e a Promessa não deixaram de existir com a promulgação da Lei formal de Deus por seu servo Moisés.
Poderíamos dividir a história do povo de Deus em três períodos: 1- Antes da Lei Mosaica (uma Lei Informal); 2- Lei Mosaica; 3- Graça (na qual ainda existem muitos mandamentos e ordenanças, escritas no coração do homem), “Esta é a aliança que farei com eles, depois daqueles dias, diz o Senhor: Porei no seu coração as minhas leis e sobre a sua mente as inscreverei” (Hb.10:16). Pois estas três etapas são espécies do mesmo gênero.

3.5. IGREJA
6.  Igreja. A morte sacrificial do Senhor Jesus  Cristo  introduziu  a dispensação da Igreja, da graça pura, que significa favor imerecido, ou seja, Deus oferece virtude em vez de exigir virtude, como de direito. Salvação perfeita e eterna é agora oferecida liberalmente a judeus e gentios mediante o reconhecimento do pecado ou arrependimento, com fé em Cristo.
[...]
O primeiro evento no final desta dispensação será o regresso do Senhor dos  céus,  quando  os  santos  que    dormiram  serão  ressuscitados  e, juntamente  com  os  que  estiverem  vivos,  arrebatados  para  "encontrar  o Senhor nos ares; e assim estaremos sempre com o Senhor" (I Ts 4.16,17).
Então se seguirá o breve período chamado "grande aflição". (Veja Jr 30.5-7; Dn 12.1; Sf 1.15- 18; Mt. 24.21,22).
Depois disso, ocorrerá o regresso pessoal do Senhor à Terra, em poder e grande  glória,  e  os  julgamentos  que  introduzirão  a  sétima  e  última dispensação. (Veja Mt 25.31-46 e Mt 24.29,30). [M.B.P.V., cap.2].

O período da Igreja, ou Dispensação da Graça, se caracteriza, realmente, pela saída do período da Lei, que durou até João Batista (Lc.16:16), e foi abolida por Jesus (Ef.2:15). Mas as outras ainda continuam a vigorar A Consciência, o Governo Humano e a Promessa. Esta última não deixou de vigorar, pois ainda estamos esperando o cumprimento de muitas promessas, cuja principal é a segunda vinda de Cristo (At.1:11, 1Ts.4;5).
Percebemos outro erro, que é a introdução de um período de Tribulação entre a “dispensação” da Igreja e do Reino (Milênio), que o próprio Jesus afirmou que não passaria aquela geração sem que todos as coisas afirmadas em seu sermão, em Mt.24, acontecessem (Mt.24:34), a única exceção seria a Sua vinda (Mt.24:36).

3.6. REINO
7.  Reino. Depois dos julgamentos purificadores  que  acompanharão  o retorno pessoal de Cristo à Terra, ele reinará sobre Israel restaurada e sobre a Terra por mil anos. Esse é o período normalmente chamado de milênio. A sede  de  seu  poder  será  Jerusalém,  e  os  crentes,  inclusive  os  que  foram salvos  na  dispensação da graça,  isto é,  a igreja,  se  associarão a  ele  e sua glória. (Veja Is 2.1- 4; Is 11; At 15.14-17; Ap 19.11-21; Ap 20.1-6) [M.B.P.V., cap.2, grifo nosso].

Essa doutrina de um governo literal com um Reino Milenar e físico é um erro terrível, pois o Reino de Cristo não será físico em nem de aparência exterior, mas está entre nós e dentro de nós (Lc.17:20,21). O próprio Senhor Jesus não queria um Reino Literal e Físico, pois fugiu quando quiseram torna-lo rei depois de haver multiplicado os pães e peixes (Jo.6:14,15).
Para mais informações sobre o erro da doutrina premilenista leia o artigo: POR QUE ABOMINO A PERNICIOSA DOUTRINA PRÉ-MILENISTA.

BIBLIOGRAFIA

BÍBLIA SAGRADA

[1, M.B.P.V.] SCOFIELD, Cyrus Ingerson. Manejando bem a Palavra da Verdade.

[2] ARISTÓTELES. Categorias.

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