LIVRE-ARBÍTRIO: OS ERROS DE ARMÍNIO



Autor: THALYSSON DE MOURA
"No meu corpo há duas almas em competição,
Anseia cada qual da outra se apartar.
Uma rude me arrasta aos prazeres da terra,
E se apega a este mundo, anseios redobrados;
Outra ascende nos ares; nos espaços erra,
Aspira à vida eterna e a seus antepassados" (FAUSTO, Goethe).
1.     INTRODUÇÃO
No artigo anterior, POR QUE NÃO ACREDITO NEM NA PREDESTINAÇÃO NEM NO LIVRE-ARBÍTRIO, vimos que as duas teorias estão erradas, pois tentam forçar a Bíblia e a estrutura da realidade a se adaptarem aos seus absurdos argumento. Já nos advertia Sherlock Holmes contra isso: “É um grave erro formular teorias antes de se conhecerem os fatos. Sem querer, começamos a distorcer os fatos para se adaptarem às teorias, em vez de formular teorias que se ajustem aos fatos” [15, p. 252, grifo meu]. Temos de ler, observar o que os fatos nos apresentam e deduzir a teoria a partir deles, e não formular uma teoria e querer que os fatos nela se encaixem , pois isso é patético e uma perfeita asnice.
Na biografia de Jacó Armínio, percebemos que não simpatizava muito com a dialética aristotélica, e vejo que isso é um perigo para um investigador teológico sério. Mas como simpatizar com Aristóteles, se este constantemente mostrava escancaradamente seus patentes erros? Armínio poderia fazer duas coisas, ou se render às admoestações de Aristóteles ou criar um sentimento de repulsa por ele, pois era constantemente corrigido pelo Estagirita.
Armínio foi para Genebra, mas “permaneceu ali durante pouco tempo, pois foi ofendido por alguns professores por defender Ramus e seu sistema de dialética em oposição ao sistema de Aristóteles” [2, p. 16]. Sua “adesão à filosofia de Ramus” [2, p. 16] era notoriamente conhecida por teólogos contemporâneos seus.
Armínio afirmava que não gostava de discussões, no entanto se envolvia em muitos debates sobre temas “polêmicos”, como mostrado em sua breve biografia [2, p. 15-21] e também em toda a sua obra, que é composta em sua maioria por debates:
Falando sobre a Justificação: “De que pode me servir uma dissensão que é empreendida meramente por um estado de espírito inquieto [...]?” [5, p. 408, grifo meu]. Manifesta também um desejo de moderação de espírito e paz [5, p. 409].
Armínio se afastou das “controvérsias intrincadas e perguntas espinhosas dos escolásticos” [2, p. 19], argumentando quer queria voltar apenas aos estudos das Escrituras. E isso foi um erro, pois os escolásticos eram versados na arte do debate sério e Jacó Armínio não duraria nem 10 minutos nas mãos de um escolástico com sua múltipla definição de livre-arbítrio. O que vi em Armínio foi uma fuga de uma Teologia séria que estava constantemente corrigindo seus erros e “mordendo seus calcanhares” para que voltasse ao caminho correto de um debate, mas Armínio negligenciou as admoestações e conselhos de Aristóteles e dos escolásticos caindo então em erros pueris, como veremos.
Dar importância ao debate Predestinação vs Livre-arbítrio é fazer como certo estudante que desejou estudar e aprender com Mefistófeles (o Diabo). É caminhar errante entre o terreno da razão lógica e a confusão demoníaca, mesclando as duas numa insolúvel amalgama de contradições da qual não se pode escapar e onde se gasta a vida toda caminhando em círculos sem sair do lugar.
Um estudante desejou estudar e procurou um professor, encontrando Mefistófeles (Diabo), teceu com ele diálogos. Mefistófeles apresentou-lhe uma poderosa demonstração de lógica, mas logo se cansou e voltou à confusão demoníaca dizendo: “Já cansei de falar austero e com bom siso, vou passar a expressar-me, agora, qual demônio” [6, p. 83]. Assim também é tal debate, que apresenta uma fachada de lógica, porém, na verdade, não passa de uma estratégia paralisante do Diabo com a intensão de prender cérebros promissores numa puerilidade sem fim, amarrando-os com peias e os impedindo de progredirem no conhecimento do SENHOR.

2.     O QUE É LIVRE-ARBÍTRIO, SEGUNDO JACÓ ARMÍNIO?

“A palavra arbitrium, ‘escolha’” [2, p. 471]. “A liberdade quando atribuída ao arbítrio, é certamente uma afeição do arbítrio, embora tenha raízes na compreesão e na razão. Considerando de modo geral, ela é diversa” [2, p. 471], e Armínio coloca cinco pontos que definem livre-arbítrio, sendo que dos cinco, dois correspondem a Deus e três aos seres humanos.

2.1.              O livre-Arbítrio de Deus
Dos cinco pontos que definem livre-arbítrio, “os dois primeiros pertencem a Deus; a quem também é atribuído o livre-arbítrio, a independência prefeita ou a completa liberdade de ação” [2, p. 471, grifo meu].
Será que Deus tem realmente a perfeita e completa liberdade de ação, como argumenta Armínio? Será que Deus é livre para praticar qualquer ação? Vejamos o que diz a Bíblia.
“em esperança da vida eterna, a qual Deus, que não pode mentir, prometeu antes dos tempos dos séculos” (Tt.1:2).
Então percebemos que Deus não é totalmente livre para realizar qualquer ação, Ele não pode exercer a ação de mentir porque Ele próprio é a Verdade (Jo.14:6).
“se formos infiéis, Ele permanece fiel; não pode negar-se a Si mesmo (2Tm.2:13).
Deus não pode negar-se a si mesmo. Estes são os textos mais diretos que explicitam que nem Deus tem a liberdade completa, pois não pode negar-se a Si mesmo e nem pode mentir. Portanto, a teoria de Armínio sobre livre-arbítrio não se aplica nem a Deus, o que podemos dizer de sua aplicação aos homens? Atentemos ao conselho de Sherlock Holmes, adequar a teoria aos fatos, se a teoria não corresponde aos fatos deve ser abandonada. O livre-arbítrio já começou mal.

2.2.              O Livre-Arbítrio dos Homens
Além de duas definições de liberdade divina, Armínio coloca três definições de livre-arbítrio do homem:
“(3.) Também é uma liberdade da necessidade, quer venha de um motivador externo, quer de uma natureza interior que determine absolutamente alguma coisa. (4.) É uma liberdade do pecado e seu domínio. (5.) É a liberdade de uma miséria”[2, p. 471].

2.2.1.  O perigo de Termos Equívocos (ou Homônimos)
O primeiro erro absurdo do Armínio é que ele dá cinco definições diferentes para Livre-arbítrio. E já alertava Aristóteles que esse tipo de erro não pode ser cometido, pois causa diversos tipos de confusões no decorrer da investigação. Já dizia ele: “de um sujeito equívoco nada se pode predicar univocamente”.
Um termo equívoco (ou homônimo) não pode aparecer num debate sério, tem que ser definido e delimitado o significado de um termo antes da discussão e isso é amplamente alertado por Aristóteles em suas obras do Órganon, principalmento no cap.15 do livro 1 do Tópicos [4, p. 363-369]. O que são equívocos? São termos que embora tenham o mesmo nome têm significados diferentes. Arthur Schopenhauer alerta sobre os perigos da utilização de termos homônimos (ou equívocos) colocando-os no rol de argumentos erísticos [3, p. 48]., considerando-o  “idêntico ao sofisma ex homonymia” [3, p. 48, grifo do autor]. Um exemplo citado por ele:
Omne lumen potest extingui
Intellectus est lumen
Intellectus potest extingui.
[Toda luz pode ser extinta.
A compreensão é uma luz.
A compreensão pode ser extinta.]

Aqui logo se percebe que existem quatro termos: a lumen literal e a lumen compreendida de maneira figurativa. Mas em casos mais sutis, o sofisma consegue enganar” [3, grifo do autor].

“É frequente, também, nas definições efetivas, o equívoco passar sem ser detectado, motivo pelo qual é preciso também examinar as definições” [4, p. 368, grifo do autor].
Como Jacó Armínio exibe várias definições e significados diversos para Livre-arbítrio, vejamos o que aconselha Aristóteles quando nos deparamos com situações como essa:

“O exame dos vários significados de um termo mostra-se útil tanto em benefício da clareza (pois alguém conhecerá melhor o que enuncia se os vários sentidos nos quais [o termo] pode ser empregado houverem sido esclarecidos) quanto também para que seus silogismos possam ser dirigidos à coisa real e não ao nome pelo qual é designada, pois se os vários sentidos nos quais um termo pode ser empregado não estiverem claros, será possível acontecer que aquele que responde e aquele que pergunta não estejam dirigindo suas mentes à mesma coisa, ao passo que se houver sido esclarecido quais são os vários sentidos nos quais um termo pode ser empregado e a qual deles aquele que responde está se referindo no seu enunciado, aquele que pergunta pareceria ridículo se não dirigisse seu argumento a este. É igualmente útil para que alguém possa não se enganar e para que ninguém possa enganar outros mediante o raciocínio falseado, pois se conhecermos os vários sentidos nos quais um termo pode ser empregado, jamais seremos enganados pelo falso raciocínio, mas estaremos cientes dele se aquele que pergunta não conseguir dirigir seu argumento ao mesmo ponto, e nós mesmo, quando estivermos formulando questões, seremos capazes de enganar aquele que responde, caso aconteça de não conhecer ele os vários significados de um termo. Isso, entretanto, não é sempre possível, mas somente quando alguns dos vários sentidos são verdadeiros e outros, falsos. Este tipo de argumento, contudo, não constitui uma parte apropriada da dialética e, portanto, os dialéticos devem se manter em guarda contra tal discussão verbal” [4, p. 370, 371, grifo meu].

Aristóteles já nos prevenia do erro de Armínio de dar cinco  definições diferentes para livre-arbítrio e cairmos numa confusão maluca. Por isso Armínio não gostava muito do Aristóteles, pois está sempre sendo corrigido por este.
No Debate XI: Sobre o livre-arbítrio do homem e seus poderes [2, p. 473-477], Armínio faz uma “salada” de confusos argumentos tentando explicar vários aspectos do livre-arbítrio, tal confusão desnecessária proveniente da sua múltipla definição de livre-arbítrio. Algo que ele poderia evitar se se voltasse à filosofia aristotélica, ou seja, cria dificuldade para vender facilidade, cria um problema pueril para poder resolvê-lo. E, em suas confusas argumentações, acaba apresentando evidências de que o homem não é totalmente livre.

2.2.2.  Escolha de Apenas Um Significado
Tratarei apenas da definição (3.) de livre-arbítrio, para não haver confusão e também é a única que pretendo refutar.
“(3.) Também é uma liberdade da necessidade, quer venha de um motivador externo, quer de uma natureza interior que determine absolutamente alguma coisa.” [2, p. 471, grifo meu].
No Gênesis: "o próprio homem, que de seu próprio livre-arbítriio e sem qualquer necessidade, interna ou externa (Gn.3: 6), transgrediu a lei que havia sido proposta" [2, p. 434, grifo do autor, grifo meu]. Diz ele ainda, sobre a Queda do Primeiro Homem:  "por sua própria livre e espontânea iniciativa, e através de um desejo absurdo de tal bem, a declinar da obediência que lhe havia sido prescrita" [2, p. 473, grifo meu]. 
“a liberdade da necessidade sempre se refere a ele [o homem] porque ele existe naturalmente no arbítrio, com seu atributo próprio, de modo que não pode haver qualquer vontade, se não for livre.” [2, p. 471, grifo meu].


3.     REFUTAÇÃO À 3ª DEFINIÇÃO DE LIVRE-ARBÍTRIO DE ARMÍNIO

Não temos liberdade total nem interna nem externa. Se nem Deus possui liberdade total, ou seja, livre-arbítrio, muito menos teremos nós seres humanos. Isso já foi argumentado no artigo: POR QUE NÃO ACREDITO NEM NA PREDESTINAÇÃO NEM NO LIVRE-ARBÍTRIO.
Acerca das influências externas, Thalysson de Moura faz a seguinte colocação:
Como influências externas, temos o meio social em que vivemos. Desde que nascemos recebemos muitas influências do meio que nos acompanharão pelo resto da vida, como alimentares, hormonais, educacionais, afetivas, culturais, entre outras.
Nossos pais e familiares nos dão um alicerce para a formação de nossa personalidade, que vem a ser complementada, com o tempo, pela escola, por amigos, por instituições sociais ou religiosas, pela mídia, por filmes, novelas, livros, músicas, etc. Recebemos de toda essa complexa amalgama muitas influências positivas e negativas, tanto aquelas que nos direcionam para o céu quanto as que nos afastam dele. Não somos livres de influências externas de maneira alguma.” [7, 3.1., grifo meu].

Acerca das influências internas, Thalysson de Moura argumenta:
Como influências internas, podemos citar as nossas próprias tendências ou desejos internos que não dependem do nosso próprio querer, que aparecem sem serem solicitados, muitas vezes até contra a nossa própria vontade. Fazem parte destas categorias os pensamentos e comportamentos herdados de nossos ancestrais, como demonstrado pelo psiquiatra austríaco Leopold Szondios nossos ancestrais estão dentro de nós, lutando entre si para que o imitemos, é o chamado carma familiar.” [7, 3.2., grifo meu].

Até algumas doenças podem influenciar-nos e limitar a nossa liberdade de escolha de um caminho para salvação ou condenação, como hipertensão, estresse, hipertireoidismo podem deixar as pessoas mais suscetíveis à irritabilidade, portanto a um pecado. Medicamentos, como certos antidepressivos podem hipertrofiar a libido de seus usuários causando certa inclinação a pensamentos e condutas eróticas pecaminosas. Essas pessoas estão muito mais expostas a esses tipos de pecados do que pessoas normais, portanto, sua liberdade foi muito mais limitada, cerceada, e coloca essas pessoas num estado de exposição muito mais acentuado a esses tipos de pecado.
Até hormônios, excesso ou falta de nutrientes, são influências externas que podem causar influências nos estados psicológicos internos. Os estados físico, intelectual ou psicológico, etc, todos nos influenciam em nossos destinos eternos.” [7, 3.2.].

4.     INFLUÊNCIAS CULTURAIS NA BÍBLIA

Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co.15:33).

4.1.             Os Costumes do Egito
José, conversando com seu pai e seus irmãos, diz que informará a faraó que Jacó e sua família são pastores de gado e de ovelhas, pois pastores de ovelhas eram abominações para os egípcios (Gn.46:28-34) e (Gn.45:10), e assim poderiam viver na terra de Gósen, “isolados”, ou afastados da cultura idólatra egípcia.
José sabia da influência pecaminosa que a nação egípcia poderia exercer sobre os descendentes de sua família e resolveu protege-los das más influências.

4.2.               A Idolatria das Nações Pagãs
Deus não queria que os hebreus se misturassem com os povos das terras que seriam conquistadas para que os hebreus não fossem influenciados pelos seus costumes idólatras.
“Quando o SENHOR, teu Deus, te tiver introduzido na terra, a qual passas a possuir, e tiver lançado fora muitas nações de diante de ti, os heteus, e os girgaseus, e os amorreus, e os cananeus, e os ferezeus, e os heveus, e os jebuseus, sete nações mais poderosas do que tu;
[...] nem te aparentarás com elas; não darás tuas filhas a seus filhos e não tomarás suas filhas para teus filhos; pois elas fariam desviar teus filhos de mim, para que servissem a outros deuses [...]” (Dt.7:1,3,4).
“Porém, das cidades destas nações que o SENHOR, teu Deus, te dá em herança, nenhuma coisas que tem fôlego deixarás com vida. Antes, destruí-las-ás totalmente: aos heteus, e aos amorreus, e aos cananeus, e aos ferezeus, e aos heveus, e aos jebuzeus, como te ordenou o SENHOR, teu Deus, para que vos não ensinem a fazer conforme todas as suas abominações, que fizeram a seus deuses, e pequeis contra o SENHOR, vosso Deus” (Dt.20:16-18).
Outros textos relacionados são (Dt.12:29-31); (Dt.18:9-14), mostrando que Deus quer proteger seu povo das más influências idólatras desses povos.
Os israelitas não conseguiram expulsar nem matar os povos das nações idólatras e isso lhes causou diversos problemas com a idolatria (Js.15:63; Jz.1:21; ). Os israelitas desobedeceram ao SENHOR se casando com os habitantes das nações pagãs e servindo aos seus deuses (Jz.3:4-7). E a história de idolatria, tanto do povo quanto dos reis se desenrola com a idolatria de Salomão por influência de suas esposas estrangeiras (1Rs.11:1-13), a separação dos reinos em Israel (Reino do Norte) e Judá (reino do Sul), os dois bezerros de Jerobão e sua idolatria (1Rs.12:28-31), a impiedade de todos os reis de Samaria (Israel) e da maioria dos reis de Judá, culminando no exílio assírio (para Israel) e o babilônio (para Judá).
As más influências exercidas por esses povos idólatras foi tal que até reis se submetera aos seus cultos, os reis Acaz e Manassés ofereceram seus próprios filhos em sacrifício (2Cr.28:1-3), (2Rs.21:6).
Deus e seus servos, como Moisés e José, sabiam que “as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co.15:33), e queriam proteger o povo das más influências que culminaram em muita desgraça para o povo israelita ao longo dos tempos.

4.3.              Os Samaritanos
Aos judeus, na época de Jesus e dos primeiros apóstolos, não eram permitido o envolvimento com estrangeiros, nem com Samaritanos (Jo.4:9; At.10:28; At.11:3; Gl.2:9-15).
“Em 2Reis17, porém está registrado que os samaritanos eram um grupo composto, pelo menos em parte, de pagãos que o rei da Assíria mandara trazer de outras nações para ocupar o território de Israel” [16, p. 1737].
Para que não houvesse contaminação cultural ilícita com os costumes pagãos, aos judeus eram proibidos contatos com povos que não serviam a Deus. Isso era uma espécie de proteção contra as influências nefastas que tais povos poderiam causar, a curto e longo prazo, na cultura e no culto judaico.
Ignorar as influências externas, como Armínio ignorou, é sinal de uma perfeita ignorância e falsificação bíblica gigantescas.

5.     INFLUÊNCIAS DE NATUREZAS INTERNAS NA BÍBLIA

Ao contrário do que fala Armíno, existem naturezas antagônicas que nos influenciam interiormente, nos atraindo a Deus ou nos atraíndo em sentido contrário a Ele, ambas são de atração e não imposição.

5.1.             A Carne e o Espírito

“Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais o que, porventura, seja do vosso querer(Gl.5:17).

Em (Gl.5:16-26) nos são apresentados as Obras da Carne e os Frutos do Espírito. Existem duas naturezas opostas entre si (Gl.5:17), dentro de vocês, atraindo-os, como num “cabo de guerra”, tanto para um lado quanto para o outro “para que não façais o que quereis” (Gl.5:17). Não somos totalmente livres e o nosso querer depende dessa luta interna que ocorre em nós, as obras pecaminosas da carne nos atraem, pois nos causam prazer físico e/ou psicológico e os frutos do Espírito também nos proporcionam tais prazeres. Como terminará tal briga interna? Depende, de para qual estamos mais inclinados, pois "a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz. Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus, pois não é sujeita à lei de Deus, nem, em verdade o pode ser" (Rm.8:6,7). Temos uma escolha, sim, porém ela não é livre de maneira nenhuma.

5.2.              Quero fazer o Bem, mas pratico o Mal
Paulo sabia que a Lei de Deus era espiritual, mas ele tinha em si uma natureza carnal contrária a tal Lei divina (Rm.7:14), a Lei era “santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom” (Rm.7:12). Paulo não fazia o que queria, pois era influenciado sobremaneira por sua natureza carnal: “Porque nem mesmo eu compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro, e sim o que detesto (Rm.7:15). O querer estava nele, porém não o efetuar (Rm.7:18-20), ou seja, existia uma lei na seu coração, na sua mente e na sua consciência que o atraia a fazer a vontade de Deus (Rm.2:15; Hb.10:16), uma inclinação para coisas do Espírito, tendo prazer na Lei de Deus (Rm.7:22); porém outra para as coisas da carne (Gl.5:16-18, 25; Rm.8:4-11; Rm.7:23) que o atraíam para prazeres que, na verdade são inimizade a Deus (1Jo.2:15,16).
Paulo afirma que tem coisas nele que não é ele quem as faz, mas o pecado que habita nele (Rm.7:17-20). Uma tendência pecaminosa habita dentro de nós que nem sabemos de onde ela veio. Da nossa natureza adâmica, herdada de nossos ancestrais, da nossa cultura, de influências diversas, ou de todas essas coisas ao mesmo tempo. Quem poderá prever de onde virão tais influências e como se precaver? O apego a Deus em oração e o arrependimento sincero são os únicos remédios para tal mal invisível, o apego ao sacrifício de Cristo é a única coisa que nos pode nortear e salvar (Rm.7:24,25).

6. DESCONVERSAS, CONTRADIÇÕES E EMBUSTES DE ARMÍNIO

Jacó Armínio se mete em muitas confusões metodológicas, utiliza vários sentidos pra uma mesma palavra, pula de um sentido para outro ao seu bel prazer, contradiz a sua própria definição de Livre-arbítrio em seu próprio texto. O embusteiro Armínio é mais escorregadio que um peixe ensaboado. Malícia Diabólica ou Burrice estrita? Não sei dizer. Não tem como vencê-lo, pois ele sempre muda o sentido das palavras em discussão, mas tem como desmascará-lo.

6.1. Na Queda do Primeiro Homem
Em várias ocasiões, Armínio afirma que o Homem é livre da necessidade de um motivador interno ou externo, como no caso de Adão: "o próprio homem, que de seu próprio livre-arbítriio e sem qualquer necessidade, interna ou externa (Gn.3: 6), transgrediu a lei que havia sido proposta" [2, p. 434, grifo do autor, grifo meu]. E em outro falando também da queda do Primeiro Homem fala: "por sua própria livre e espontânea iniciativa, e através de um desejo absurdo de tal bem, a declinar da obediência que lhe havia sido prescrita" [2, p. 473, grifo meu]. 
Mas como as afirmações supracitadas são insustentáveis, vem o Remendo: "Perpetrado pelo Livre-arbítrio do homem, a partir de um desejo de ser como Deus, e através da persuasão de Satanás, que assumiu a forma de uma Serpente" [2, p. 434].
Armínio fala n'outro lugar [2, p. 435], das "causas internas", que eram sentimento e desejo, implantado no homem pelo próprio Deus, de ser semelhante a Deus e também do desejo, ou sentimento natural pelo fruto.
Engraçado. Se decida, Armínio, ou o homem sofreu influência da Serpente e de desejos e sentimentos internos, ou pecou por sua própria livre e espontânea iniciativa, sem qualquer necessidade interna ou externa. As duas coisas não podem ser verdeiras ao mesmo tempo.
Percebem que estamos lidando com um embusteiro bastante sacana?
Armínio é Perito no Estratagema da Homonímia Sutil [3].
N'outra ocasião, ele acusa seu contendor de Negligência [2, p. 331], por ter sido mal compreendido, pois ele usa "a palavra 'Eleição' em dois sentidos" [2, p. 331]. Como debater com alguém que usa vários sentidos para uma mesma palavra e fica pulado de galho em galho, usando o significado que lhe convém?!!! Aristóteles nos adverte constantemente do perigo dos termos Equívocos (ou Homônimos), Shopenhauer descreve esse hábito pérfido de Armínio como Homonímia Sutil, um estratagema erístico para tentar vencer o debate per fas et per nefas (por meios lícitos ou ilícitos). 

        6.2. O Livre-Arbítrio pode ser Ferido
Outra tentativa de remendar sua Definição Absurda de Livre-arbítrio é a do caso do homem que vive escravo do pecado (Rm.6:16). Armínio afirma: 
"Neste caso, o livre-arbítrio do homem para o que é bom não somente está ferido, aleijado, enfermo, distorcido e enfraquecido; ele também está aprisionado, destruído e perdido" [2, p. 473].
Então eu me pergunto: Pra que serve a Definição de Livre-Arbítrio, se ela é volátil? Se ela serve pra alguns casos e pra outros não?
Mas Armíno está errado nesse ponto também, a capacidade de Arbítrio (Escolha) do homem não pode ser "destruída e perdida" [2, p. 473]. Se fosse destruída e perdida, aqueles homens que hoje são Escravos do Pecado não poderiam se converter. Alguma liberdade existe. Ninguém é tão escravo do pecado que não possa se libertar.
Armínio usa esse artifício para remendar o absurdo que é sua Definição de Livre-Arbítrio, mas esses remendos não vão fazer que com que a sua Definição se torne certa como num passe de mágica. A Definição continua Errada.


APÊNDICES


7.     APÊNDICE I
A INFLUÊNCIA HEREDITÁRIA EM NOSSAS ESCOLHAS

“Depois de algum tempo você aprende... Aprende que há mais dos seus pais em você do que você supunha.” (William Shakespeare).

7.1.              A Psicologia do Destino de Szondi

A definição de Destino:
 o destino é o conjunto das possibilidades de existência, herdadas e livremente elegíveis.
O homem não tem, portanto, um destino único, herdado e rigidamente determinado.
[...] o homem vem ao mundo com uma multiplicidade, com um conjunto de possibilidades de existência, dentre as quais pode, mais tarde, escolher livremente.
[...] Esperamos que esses fatos comprovados bastem para invalidar, no futuro, a repreensão de que a Análise do Destino enunciaria um determinismo genético-fatalista.” [I.P.D, p. 58, grifo do autor].

A Teoria do Destino de Szondi é muito parecida com a Teoria das Ramificações Contingentes, porém com uma diferença crucial. A teoria do destino busca uma união das duas vertentes determinismo e livre-arbítrio, ao passo que a teoria das ramificações contingentes é caracterizada pelo abandono das duas doutrinas opostas, buscando uma intermediária que não tem nada a ver com as duas, também tem uma abrangência metafísica da onisciência e presciência divinas dessas vária possibilidades de destino.

“A Análise do Destino de ‘coerção de escolha dos ancestrais’ as ações hereditariamente dirigidas (genotrópicas) dos condutores. Essas ações conduzem, como sabemos, a destinos compulsivos. Sem dúvida a pessoa acha que sua escolha é pessoal; mas tal ‘escolha’ é de fato palilalia[1] compulsiva dos ancestrais. Por isso falávamos anteriormente de uma escolha inconsciente, mas sempre acentuando que, sem dúvida, também aí é consciente a escolha, embora permaneçam inconscientes as instâncias genéticas que a dirigem.” [8, p. 58, 59, grifo do autor (itálico); grifo meu (negrito)].

Freud analisou a teoria de Szondi e enviou-lhe uma carta fazendo algumas observações. Eis um excerto da carta:
“O tema me é demasiadamente estranho. Certas objeções contra o material apresentado me vêm ao pensamento. Com muita frequência não coincidem a escolha do casamento e a do amor. Na maioria das vezes a liberdade de escolha é muito restrita. A experiência psicanalítica revela uma variedade razoável de aspectos do amor: a ligação com o objeto de antigos amores e as impressões recebidas deles; o apoio narcisista em si mesmo e muitas vezes em características do outro sexo que não atingiram desenvolvimento na própria pessoa (por exemplo, o menino que desejou ser menina, etc.). A ligação amorosa pode também por à mostra uma dependência negativa. Portanto, o maior afastamento possível de determinadas imagens incestuosas da mãe, irmã, etc. O fator posto em relevo pelo Sr. poderia ter sua influência sem ser, entretanto, único ou decisivo.” [8, p. 72, 73].


7.2.              Impulsos Internos Herdados
O psiquiatra húngaro Leopold Szondi (1893-1986) foi o fundador da escola de psicoterapia chamada Análise do Destino. Fez profundas pesquisas e escreveu sobre a influência da hereditariedade nas escolhas amorosas, de amizades, da profissão; em doenças e tendências psicológicas e sexuais; e até no tipo de morte. [8, p. 33].
Primeiramente, algumas psicopatologias são hereditárias, assim como alguns tipos de comportamentos sexuais também têm muita influência dos nossos ancestrais:
“A teoria psiquiátrica da hereditariedade classificou até agora três tipos hereditários, independentes, de doenças mentais” [8., p. 79].
“Dispondo cada um dos quatro tipos psicopatológicos hereditários de duas formas sintomáticas, clínica e geneticamente distintas, devemos supor a existência de, ao todo, oito necessidades ou desejos pulsionais.
As oito moléstias psíquicas hereditárias, das quais cada par subordina-se a um tipo hereditário comum, são:
I – Tipos hereditários das doenças sexuais {1. Homossexualidade (h); 2. Sadismo (s)
II – Tipos hereditários das doenças paroxísticas {3. Epilepsia (e); 4. Histeria (hy)
III – Tipos hereditários das doenças esquizoformes (esquizofrenia) {5. Catatonia (k); 6. Paranoia (p)
IV – Afecções circulares: estado {7. Depressivo (d); 8. Maníaco (m)” [8, p. 80].

7.2.1.  Casamento e Hereditariedade
Acerca de casamentos, foram feitas “centenas e centenas de análises matrimoniais (1937-1963)” [8, p. 34], que comprovou o caráter genético das escolhas amorosas.
“Constatou-se que o índice de criminalidade de um grupo populacional, selecionado sob um ponto de vista sociológico unitário, corresponde ao índice de criminalidade dos cônjuges desse grupo, isto é, está numa correlação numericamente definida.” [8, p. 36].
Até a escolha de hipóteses científicas têm caráter hereditário e a Ciência não é lá esse poço de idoneidade que imaginamos, ela é até bem tendenciosa:
“as escolhas, não só no amor, na amizade e na profissão, mas também na seleção das teorias científicas de trabalho, são condicionadas pela pulsão. Com muita frequência uma hipótese de trabalho é admitida ou rejeitada por simpatia ou antipatia pessoal, sem que antes da tomada de posição se tenham realizado pesquisas. A ‘escolha da teoria’ nesses casos é puramente subjetiva e depende exatamente da estrutura individual instintiva do contestante” [8, p. 92, 93].

7.2.2.  Tendências Pecaminosas Herdadas
Até certos tipos de pecado podem ser hereditários, existe certa tendência herdada.
A escolha correta da profissão é capaz de amenizar certas tendências pecaminosas em nós, alguns exemplos citados por Szondi, são:

“dois sobrinhos de um assassino. Um deles se transformou em um açougueiro, e o outro em cirurgião. Na Hungria a filha de um carrasco tornou-se freira. A irmã de um matricida fez-se missionária. O pai de um morfinômano, que no tratamento demonstrou obsessão por roupas íntimas femininas, depois instalou na América uma fábrica de roupas femininas. São exemplos que nos mostram como se pode, por meio da profissão, adotar uma forma de vida que imuniza contra uma estrutura familiar pulsional perigosa” [8, p. 91].

7.2.3.  A Profissão e a Hereditariedade
Szondi, declara: “chamamos a atenção sobre as estreitas relações entre profissão e hereditariedade” [8, p. 91].
“Na escolha da profissão, um grupo de pessoas procura uma atmosfera de trabalho na qual possa colaborar com indivíduos portadores manifestos – em forma latente e em doses individuais – de genes análogos” [8, p. 37]. Um exemplo citado por Szondi, é  a semelhança entre as árvores genealógicas de psiquiatras, psicólogos e psicanalistas e seus pacientes. [8, p. 37].

7.2.4.  A Forma de Suicídio e a Hereditariedade
A escolha da forma de suicídio de uma pessoa também tem forte influência de seus antepassados. A “Análise do Destino pode confirmar as estreitas ligações entre epilepsia latente e suicídio, entre homossexualidade, esquizofrenia paranoica, mania e suicídio, através de pesquisas sobre a família.” [8, p. 39, grifo meu].
O homossexualismo também é uma tendência pecaminosa de caráter hereditário, e essa característica já dá margem para o desenvolvimento de doenças mentais e ainda uma certa tendência ao suicídio. Imaginemos quão grande quantidade de influências psicológicas para pecados têm essas pessoas, portanto, sejamos pacientes e complacentes com elas.
Acerca do tipo de morte por suicídio, os fatores hereditários são também muito relevantes, certos grupos de pessoas preferem veneno ou revólver, outros utilizam de preferência a corda, a navalha, a faca, o punhal, o machado ou a espada, outros preferem o salto em profundidade, da janela ou torre, da ponte, do trem; além disso a morte pelo fogo ou autocombustão (com benzina, petróleo).  O tipo mais frequente de suicídio no grupo catatônico-esquizoforme é a morte pela fome (por exemplo, na anorexia mental), ou atirando-se sob as rodas de um carro; outro grupo prefere morte por via oral: ingestão de morfina, álcool, etc. [8, p. 39]. Szondi relata que em certo caso “há um relato sobre a existência de oito suicidas na mesma família”[8, p. 39]. Até os impulsos suicidas que uma pessoa pode ter dependem do fator hereditário, e não apenas os impulsos como também a forma de suicídio são herdadas.

8.     APÊNDICE II:
MANIPULAÇÃO PSICOLÓGICA DE COMPORTAMENTO

Estamos constantemente expostos a influências psicológicas externas, desde a simples persuasão de uma pessoa amiga ou de um familiar, músicas, imagens, símbolos ou signos que podem modificar nosso comportamento ou as nossas emoções em determinados sentidos até o mais elevado estágio de estudos psicológicos utilizados pela mídia e pelos órgãos educacionais com o intuito de modificar nossos comportamentos, emoções e pensamentos ao seu bel prazer. Vejamos um breve histórico do desenvolvimento de estudos de manipulação psicológica que limitam a nossa liberdade de pensar e agir, desde a lavagem cerebral até a atual engenharia social.
A ciência da Psicologia está a cada dia se desenvolvendo com o intuito de cercear a liberdade psicológica humana. Não existe liberdade total nem no nível psicológico.

8.1.              Pavlov e a Lavagem Cerebral
Sobre a lavagem cerebral: “lavagem cerebral era uma aplicação das teorias do neurofisiologista russo Ivan Pavlov (1849-1936), descobridor dos reflexos condicionados produzidos pelo jogo estímulo-resposta. A idéia de moldar o comportamento humano pela aplicação planejada de castigos e recompensas era uma extensão das descobertas de Pavlov” [10, cap.4, §13].
Desde Pavlov, as técnicas de manipulação psicológicas vêm se tornando a cada dia mais poderosas.
A lavagem cerebral é uma técnica antiga de influência psicológica que envolvia tortura e repetição de discurso [11], que foi muito utilizada em prisões comunistas.
“Mas a doutrinação teria resultados escassos se não fosse uma segunda descoberta de Pavlov: a dos efeitos da estimulação incoerente. Ele estudou isto em cachorros. Programando-os inicialmente para salivar de fome à visão de uma luz vermelha que acendia tão logo lhe será oferecido um bife, Pavlov passou em seguida a lhes mostrar ora o bife com a luz apagada, ora a luz sem o bife. Eles ficaram completamente atordoados. Quebradas as cadeias dos reflexos condicionados, o cérebro entrava em pane. O mais surpreendente foi o modo pelo qual os cachorros se adaptaram à nova situação: “A inibição prolongada dos reflexos adquiridos —escreveu Pavlov —suscita angústia intolerável, da qual o sujeito se livra mediante reações opostas às suas condutas habituais. Um cão se afeiçoará ao funcionário do laboratório, que detestava, e tentará atacar o dono, de quem gostava.”
A mudança de atitude dos prisioneiros, portanto, não era determinada pelo conteúdo político da doutrinação, mas sim pelo efeito acumulado de estimulações contraditórias, que os levavam ao desespero até que a personalidade, literalmente, virasse do avesso. A doutrinação apenas fornecia o modelo pronto do novo discurso, que completava a transformação. Eis em que consistia a “lavagem cerebral” [10, cap.4, §13].

8.2.              Lavagem Cerebral e Quebra da Vontade
Falando de um soldado russo ateu que havia passado por lavagem cerebral, com lágrimas no rosto: “Diante  de mim estava um homem com uma mente morta, um homem que havia perdido o maior dom que Deus dera à humanidade — o de ser um indivíduo” [11., p. 10].
“O que é Lavagem Cerebral?
Ocidentais  provavelmente    ouviram  falar  de  lavagem  cerebral  na  guerra  da  Coréia e agora no Vietnam. Eu próprio já passei por esse processo. É a mais horrível das torturas.
Por anos a fio tínhamos de nos sentar durante 17 horas, diariamente, escutando:
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Comunismo é bom!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“O Cristianismo é uma estupidez!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
“Desista!”
Durante 17 horas diariamente — por dias, semanas e meses a fio.
Vários crentes  me perguntaram como pudemos resistir à  lavagem cerebral.  Há apenas um método de resistência a ela. É a "lavagem do coração" Se o coração estiver purificado  pelo  amor  de  Jesus  Cristo  e  se  O  ama,  pode-se  resistir  a  toda  e  qualquer tortura.” [11, p. 24].

Porém surgiu uma técnica parecida, porém muito mais poderosa e mais sutil do que a lavagem cerebral, a quebra da vontade. A lavagem cerebral não afeta o crente, mas a quebra da vontade afeta, como fala o pastor Alaram Popov:
“Deve ser entendido que os comunistas não procuravam aplicar-me uma “lavagem cerebral”. Sabiam que nunca conseguiriam isso. A lavagem cerebral implica em modificar completa e permanentemente o caráter de uma pessoa, fazendo com que sua mente torne-se totalmente dedicada a uma maneira de pensar diferente.
Os comunistas sabiam que nunca conseguiriam fazer isso comigo e nem tentaram. O intuito deles era quebrar a minha vontade – ameaçando, insistindo, torturando, abusando submetendo-me à fome, até que minha vontade ficasse totalmente vencida, e arruinada. Eles sabiam que, depois de minha vontade ter sido completamente quebrada e de haverem arrancado de mim tudo quanto desejassem, eu recuperaria a vontade e voltaria ao bom senso. Portanto, a tática deles não foi de aplicar-me uma lavagem cerebral, e sim machucar-me e lervar-me tão além do limite da resistência humana, que, por algum tempo, eu simplesmente perderia a vontade própria. A lavagem cerebral exige um tratamento alternadamente bom e mal. Destruir a vontade de uma pessoa é mais simples – requer apenas espancamentos brutais e incansáveis, fome e tortura que aumente progressivamente em intensidade de horror, até chegar a um clímax em que a pessoa não mais tenha vontade própria.
[...]
Este tratamento pode transformar uma pessoa racional e inteligente em um animal. A única coisa que resta, depois desse tratamento, é o instinto animal de procurar algo pra comer” [12, p. 29, 30, grifo do autor].

“Afundara até à beira da loucura. Passando por meses de espancamento, fome e tortura, eu havia combatido o bom combate. Resistira mais do que um corpo humano poderia resistir. Cheguei ao fim da minha resistência. Exclamei: ‘Ó Deus!’ Sim, minha vontade fora totalmente quebrada. Eles ganharam daquela vez.
Sob a influência desse tratamento psicológico e da tortura física, uma pessoa é transformada no que se assemelha a uma gravação, que fala e canta aquilo que nela houver sido gravado. Eles nos enchiam com as palavras, e, tal como máquinas, as repetíamos. Se me dissessem que eu assassinara minha própria mãe, eu teria repetido mecanicamente: ‘s
Sim, assassinei minha mãe’.
Eu não era mais um ser humano, e sim um gravador humano.” [12, p. 55].

As técnicas de lavagem cerebral foram conciliadas com as técnicas de mensagem subliminares numa união de manipulação psicológica mais poderosa e sutil muito mais aplicável na mídia e nas escolas de hoje.

8.3.              A Técnica Subliminar
“Para começar, o psicólogo austríaco Otto Poezl descobriu que estímulos visuais fraquíssimos, imperceptíveis à consciência, eram mais facilmente retidos na memória do que estímulos mais fortes. Logo  depois,  um  publicitário, Hal C. Becker, verificou que a coisa funcionava também com estímulos auditivos. Enxertando na música ambiente deum supermercado uma voz debilíssima e imperceptível que repetia: “Sou honesto, não roubarei”, Becker diminuiu em 37 por cento a frequência de roubos cometidos por fregueses.
 A técnica baseada nas descobertas de Poezl recebeu o nome de propaganda subliminar, por atuar abaixo do limiar (em latim, limes) da consciência” [10, cap.4, §13].

“Ora, que tal sintetizar Poezl e Pavlov? A mutação de personalidade por estimulação contraditória bem poderia ser produzida subliminarmente, sem gritos, doutrinação ostensiva ou violência de espécie alguma. Tudo no macio. A vítima nem se daria conta.” [10, cap.4, §13].

8.4.              Manipulação Psicológica nas Escolas
No livro Maquiavel Pedagogo, vemos que as técnicas de manipulação psicológica hodiernas não são tão explícitas e violentas quanto a lavagem cerebral e a quebra da vontade, elas são sutis e de fácil aplicação e estão sendo utilizadas de forma quase que total nas escolas do mundo inteiro, “o objetivo é modificar os  valores,  as  atitudes  e  os  comportamentos  dos  alunos(e  dos  professores).  Para isso,  são  utilizadas  técnicas  de manipulação psicológica e de lavagem cerebral.” [13, p. 11].
“As técnicas de  manipulação  psicológica  tornaram-se objeto, já    muitas  décadas, de  aprofundados  trabalhos de pesquisa realizados por psicólogos e psicólogos sociais, tanto  militares  quanto  civis.  É  às  vezes  difícil,  e  psicologicamente desconfortável, admitir sua temível eficácia.
[...] Já    trinta  anos  que  as  técnicas  de  lavagem  cerebral fornecem resultados  notáveis.
[...]Tais  técnicas  apóiam-se  essencialmente sobre o  behaviorismo e  a psicologia do engajamento.” [13, p. 15].

Confira no livro Maquiavel Pedagogo algumas técnicas de manipulação psicológicas, simples, sutis, porém extremamente poderosas que estão sendo utilizadas nas escolas para moldar o comportamento de nossas crianças, algumas delas são: A Submissão à Autoridade; O Conformismo; Normas de Grupo; Pé na Porta; Porta na Cara; Dissonância Cognitiva ou o Espiritualismo Dialético; Iniciação Sexual de Moças; Dramatização; Decisão e Discussão de Grupo; A Avaliação (dos Alunos e dos Professores); Modificação das Atitudes; Mudar a Atitude: Da Persuasão ao Engajamento; Condutas para mudar as “Ideias”; Manipulação da Cultura, etc.
A frase mais utilizada, em todos documentos apresentados por Palcal Bernardin, no seu livro é: “Modificação de Comportamento”.
Vivemos num mundo de influências psicológicas externas poderosíssimas, cometemos pecados que nem entendemos por que cometemos. Simpatizamos por certos filmes, séries, músicas, desenhos animados, ou até objetos nas lojas sem saber o porquê, e muitas das vezes estamos sendo induzidos por técnicas subliminares nos influenciando a compra-los.

BIBLIOGRAFIA

[1] Bíblia Sagrada

[2] ARMÍNIO, Jacó (1560-1609). As obras de Armínio. Vol. 1. 2. ed.  Traduzido por: Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

[3] SCHOPENHAUER, Arthur (1788-1860). 38 estratégias para vencer qualquer debate: a arte de ter razão. Tradução: Camila Werner. São Paulo: Faro Editorial, 2014.

[4] ARISTÓTELES (384-322 a.C.). ÓRGANON: Categorias, Da interpretação, Analíticos anteriores, Analíticos posteriores, Tópicos, Refutações sofísticas. Tradução: Edson Bini. Bauru, SP: Edipro, 2 ed., 2010.

[5] ARMÍNIO, Jacó (1560-1609). As obras de Armínio. Vol. 2. 2. ed.  Traduzido por: Degmar Ribas. Rio de Janeiro: CPAD, 2015.

[6] GOETHE, Johann Wolfgang von. Fausto e Werther. Tradução de: Alberto Maximiliano. São Paulo: Nova Cultural, 2002.


[8] SZONDI, Lipot. INTRODUÇÃO À PSICOLOGIA DO DESTINO: liberdade e compulsão no destino do homem, na escolha da profissão, amigos, esposa, doenças. Tradução: J. A. C. Müller. São Paulo: Manole, 1975.

[9] SHAKESPEARE, William. O MENESTREL: O sagrado caminho de si mesmo.

[10] CARVALHO, Olavo de. O JARDIM DAS AFLIÇÕES: De Epicuro à ressurreição de César: Ensaio sobre o materialismo e a religião civil.

[11] WURMBRAND, Richard. Torturado por amor a Cristo. 5 ed.Tradução de: Rev. Israel Gueiros Filho. Voz dos mártires, 1976.

[12] POPOV , Haralan. Torturado por sua fé. 8 ed. Tradução: João Bentes. São José dos Campos: Fiel, 2006.

[13] BERNARDIN, Pascal. MAQUIAVEL PEDAGOGO: ou o ministério da reforma psicológica. Tradução: Alexandre Müller Ribeiro. Campinas: Vide editorial, 2013.

[14] Dicionário Online de Português. Disponível em: < https://www.dicio.com.br/palilalia/>.

[15] DOYLE, Arthur Conan, Sir (1859-1930). Sherlock Holmes: obra completa. Vol. 1. Rio de Janeiro: Harper Collins Brasil, 2016.

[16] Bíblia de Estudo Arqueológica. São Paulo: Vida, 2013.




[1] Dificuldade da fala, que consiste na repetição involuntária das palavras e, às vezes, das frases. [D.O.P.].

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