Lucas Falango
"[...] Estai sempre prontos a responder para vossa defesa a todo aquele que vos pedir a razão de
vossa esperança, mas fazei-o com suavidade e respeito." (I São Pedro 3,15).
A intercessão dos santos é uma prática antiquíssima que remonta aos primórdios do cristianismo, e até do judaísmo antigo, com inúmeras provas na documentação patrística e na arqueologia.
Infelizmente, muitos foram expostos apenas a uma “argumentação” caluniosa, distorcida e de baixíssimo nível, provinda de milhares de seitas que lucram muito se aproveitando da má formação intelectual do povo, alardeando inverdades históricas e bíblicas que passam longe da realidade. Apresentaremos aqui esclarecimentos e refutações às objeções mais comuns ao tema, para informar aos católicos e aos que se aproximam do tema com honestidade intelectual.
+ O que diz o Catecismo da Igreja Católica? +
O catecismo ensina que há uma comunhão entre a Igreja do céu e a da terra:
954. Os três estados da Igreja. «Até que o Senhor venha na sua majestade e todos os seus anjos com Ele e, vencida a morte, tudo Lhe seja submetido, dos seus discípulos uns peregrinam na terra, outros, passada esta vida, são purificados, e outros, finalmente, são glorificados e contemplam "claramente Deus trino e uno, como Ele é"»
955. «E assim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com os irmãos que adormeceram na paz de Cristo: mas antes, segundo a constante fé da Igreja, essa união é reforçada pela comunhão dos bens espirituais»
956. A intercessão dos santos. «Os bem-aventurados, estando mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade [...]. Eles não cessam de interceder a nosso favor, diante do Pai, apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao Mediador único entre Deus e os homens, Jesus Cristo [...]. A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude fraterna».
+ Perguntas Pertinentes +
➢ Por que os católicos oram aos santos?
R: Bem, primeiro, não são apenas católicos. São todos os grupos históricos de cristãos que remontam aos apóstolos (católicos, ortodoxos orientais, armênios, coptas, etíopes, etc.), exceto os protestantes. Pedir aos santos por sua intercessão é uma parte fundamental de todo o cristianismo histórico, anular os santos então é uma novidade do protestantismo depois de XVI séculos de história cristã. O que nos leva à resposta de por que os cristãos oram aos santos:
Oramos aos santos a fim de pedir-lhes que orem ao Senhor por nós, assim como pediríamos a nossa família para orar por nós, eles não podem fazer nada por si mesmos, todo milagre é concedido por Deus Todo-Poderoso.
➢ Então os santos oram por vocês, mas por que vocês dizem que oram aos santos?
R: Porque o verbo “Orar” significa “Pedir”. A palavra “orar” originalmente significava simplesmente “Pedir” (Ora pro nobis-Pede por nós), e assim quando alguém pedia a Deus algo, estava orando a Deus, e da mesma forma quando alguém pedia a outro para pedir em seu nome, você estava orando a eles para orar por você. Com o passar do tempo a nossa lingua acabou restringindo o verbo “orar” como algo que se faz somente ao divino, e o alcance semântico da palavra começou a encolher na maioria dos casos.
No entanto, os católicos nunca abandonaram o termo no sentido mais antigo e amplo da palavra, enquanto os protestantes restringiram seu significado, e assim os católicos ainda hoje falam de orar aos santos, significando simplesmente um pedido aos santos para que intercedam por nós junto a Deus.
➢ Não é a oração um ato de adoração?
R: No uso religioso dentro do protestantismo, sim, mas como vimos, esse não é o significado original do termo (e que foi mantido na Igreja Católica), e esse certamente não é o significado amplo do termo.
O mesmo acontece com outros conceitos também. Honrar a Deus, por exemplo, é um ato de adoração, mas em outros contextos honrar uma pessoa não é de forma alguma um ato de adoração. Por exemplo, o próprio Jesus nos lembrou do dever de “honrar a seu pai e a sua mãe” (Mc 7,10), mas ele certamente não estava nos mandando adorar nossos pais.
Orar a Deus certamente pode incluir atos de adoração (louvando-o e proclamando sua grandeza, por exemplo), mas também se poderia simplesmente pedir a Deus por ajuda em uma oração.
Porém, quando usada em referência aos santos, a oração certamente não é um ato de adoração, mas simplesmente um pedido por sua intercessão.
São Tomás de Aquino, o maior teólogo da história da Igreja (e do mundo), aborda o tema na sua obra: Suma Teológica, e nos explica isso de forma clara e simples:
“[...] A oração é oferecida a uma pessoa de duas maneiras: primeiro, a ser cumprida por ele, em segundo lugar, a ser obtida através dele. No primeiro sentido, oferecemos oração somente a Deus, pois todas as nossas orações devem ser dirigidas para a aquisição da graça e da glória, que só Deus nos dá, de acordo com o Salmo: "O Senhor dará graça e glória" (Sl 83,12). Mas, na segunda maneira, oramos aos santos, quer sejam anjos ou homens, não para que Deus possa por meio deles conhecer nossas petições, mas que nossas orações possam ser eficazes por meio de suas orações e méritos. Por isso, está escrito (Ap 8,4) que "a fumaça do incenso", ou seja, "as orações dos santos subiram diante de Deus". Isso também fica claro pelo próprio estilo empregado pela Igreja ao orar: já que pedimos à Santíssima Trindade: "Tenha piedade de nós", enquanto pedimos aos santos: "Rogai por nós".
Somente a Deus oferecemos adoração religiosa quando oramos, de quem buscamos obter o que oramos, porque, ao fazê-lo, confessamos que Ele é o Autor de nossos bens.
Mas, não, aos que pedimos como a intercessores nossos juntos de Deus.”
Para qualquer um que deseje insistir que isso seja adoração, tudo o que podemos dizer é que há algo muito diferente acontecendo no coração de um católico, quando ele diz: “Santos Apóstolos, Pedro e Paulo, Rogai por nós!” e quando ele diz: “Só Vós sois o Santo, Só Vós sois o Senhor, só Vós sois o Altíssimo, Jesus Cristo, Redentor do mundo, Tenha piedade de nós!”
Ninguém está qualificado para julgar o que está acontecendo no coração do outro para começo de conversa, mas saibam que há uma diferença marcante entre os dois tipos de oração.
Lembremos o que São Paulo nos ensinou:
“Nada façais por espírito de partido ou vanglória, mas que a humildade vos ensine a considerar os outros superiores a vós mesmos.” (Filipenses 2,3).
+ Sono da Alma? +
É muito comum vermos os adeptos das seitas modernas dizerem que os santos estão mortos, em um estado de "sono". E apesar dessa interpretação ser rejeitada pelas denominações protestantes mais tradicionais, é uma visão tida quase como dogma no meio protestante brasileiro e nas inúmeras seitas oriundas da reforma.
O erro geralmente ocorre ao interpretarem textos de forma literal, sem levar em conta o gênero literário, as variações da crença judaica sobre a morte ao longo dos séculos , não concatenando as passagens com outras que tratam do mesmo assunto, e esquecendo que a vinda de Cristo mudou a realidade que vemos no Velho Testamento.
Com essa interpretação simplista, algumas denominações negam a imortalidade da alma, alegam uma aparente impossibilidade da intercessão dos santos, ou tentam acusar o ato de ser necromancia, querendo desmerecer ou caluniar a Igreja Católica. Alguns dos textos frequentemente citados por essas denominações são:
"Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos de nada sabem. Para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança jaz no esquecimento." (Eclesiastes 9,5)
"Os mortos não louvam ao Senhor, nem os que descem ao silêncio." (Salmos 115,17)
Vejam que o primeiro texto diz claramente que "não há recompensa", exatamente o oposto do que Cristo ensinou:
"Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a sua recompensa nos céus." (São Mateus 5,12)
O autor alega desconhecer o destino dos mortos, coloca o homem e os animais na mesma posição, o próprio autor diz estar tratando do destino físico, da labuta dos homens (Ecl 1,13).
"Porque o destino dos filhos dos homens e o destino dos animais é o mesmo, um mesmo fim os espera. Tanto morre um como o outro. A ambos foi dado o mesmo sopro. A vantagem do homem sobre o animal é nula, porque tudo é vão. Todos caminham para um mesmo lugar. Todos saem do pó e para o pó voltam. Quem sabe se o sopro de vida dos filhos dos homens se eleva para o alto e o sopro de vida dos animais desce para a terra?" (Eclesiastes 3,19-21)
O autor põe em dúvida se realmente vamos para o céu ou se tudo acaba na sepultura, o livro é dúbio nessa questão, as vezes o autor parece ter também a esperança da vida eterna:
"E o pó volte à terra donde saiu, e o espírito volte para Deus que o deu." (Eclesiastes 12,7)
O segundo texto (Salmo 115) diz que a alma desce ao silencio, dando a entender que o Xeol seja um local de inconsciência total, porém outras passagens demonstram atividade e a consciência dos que lá habitam, alguns aparentemente dormem, por não terem outra opção nessa existência triste e enfadonha.
"Debaixo da terra se agita a morada dos mortos, para receber-te à tua chegada; despertam em tua honra as sombras dos grandes, e todos os senhores da terra, e levantam-se de seus tronos todos os reis das nações. Todos tomam a palavra para dizer-te: Finalmente, eis-te fraco como nós, eis-te semelhante a nós. " (Isaias 14,9-10)
"Eles tombarão no meio dos que pereceram pela espada; toda a sua força desaparecerá. A elite dos heróis com seus aliados dirá ao faraó, do seio da região dos mortos..." (Ezequiel 32,20-21)
Fica claro o quão incoerente é levar as passagens do Velho Testamento de forma literal, como uma descrição infalível sobre o estado espiritual dos que se foram, sendo algo que o povo de Deus ainda não tinha conhecimento pleno. Precisamos ter a devida cautela na interpretação desse tipo de passagem, levando em conta o estilo literário do texto, e toda a nuance da crença judaica sobre a morte, concatenando com outros textos do mesmo assunto, sempre lembrando que o Velho Testamento não deve ser "régua" para o Novo, e sim o oposto.
Através dos séculos, foi se afirmando na cultura hebraica, a crença de que os homens, por serem pecadores e indignos, eram "condenados" a habitar na Morada dos Mortos (ou Xeol), local melancólico, de esquecimento, e punição, mas que esse não seria o único destino dos falecidos.
Se nota em outras passagens a crença de que Deus não deixava os justos no Xeol, e que alguns poucos justos habitariam na presença de Deus, ou em algum local separado dos ímpios no Xeol.
"Mas as almas dos justos estão na mão de Deus, e nenhum tormento os tocará. Aparentemente estão mortos aos olhos dos insensatos: seu desenlace é julgado como uma desgraça. E sua morte como uma destruição, quando na verdade estão na paz! Se aos olhos dos homens suportaram uma correção, a esperança deles era portadora de imortalidade." (Sabedoria 3,1-4) (Excluído do cânon protestante)
"O túmulo será sua eterna morada, sua perpétua habitação, ainda que tenha dado a regiões inteiras o seu nome, pois não permanecerá o homem que vive na opulência: ele é semelhante ao gado que se abate. Este é o destino dos que estultamente em si confiam, tal é o fim dos que só vivem em delícias. Como um rebanho serão postos no lugar dos mortos; a morte é seu pastor e os justos dominarão sobre eles. Depressa desaparecerão suas figuras, a região dos mortos será sua morada. Deus, porém, livrará minha alma da habitação dos mortos, tomando-me consigo." (Salmos 48,12-16)
"O sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos."(Provérbios 15,24)
"Mesmo que desçam à morada dos mortos, minha mão os arrancará de lá; ainda que subam aos céus, eu os farei descer dali." (Amós 9,2)
"Se subir até os céus, ali estareis; se descer à região dos mortos, lá vos encontrareis também." (Salmos 138,8)
Conforme a vinda do Messias se aproximava, mais claro foi ficando o destino dos falecidos, até chegar ao que sabemos hoje; Que o homem mesmo sendo justo, não poderia ir para o Paraíso ver a Deus, devido ao pecado original, e por isso aguardava a vinda do Messias na Morada dos Mortos, os justos em um lugar bom, e os ímpios em um lugar de castigo (Dt 32,22; Lc 16,19).
“Porem Tobias os repreendia: Não faleis assim, porque nós somos filhos dos santos (patriarcas) e esperamos aquela vida que Deus há-de dar aos que nunca deixam de confiar nele.” (Tobias 2,17-18) (Excluído do cânon protestante)
“Senhor, trata-me segundo a tua vontade, mas manda que o meu espírito seja recebido em paz, porque é melhor para mim morrer do que viver.” (Tobias 3,6) (Excluído do cânon protestante)
Vemos que Tobias esperava uma vida após a morte, onde seu espirito seria recebido por Deus em algum lugar, uma vida nova com os santos patriarcas, e isso seria algo bom, ao contrário do terror da morte que vemos os hebreus professarem no início, quando as coisas não eram tão claras, agora faz sentido o que Jesus disse sobre Abraão, Isaac e Jacó viverem (Lc 20,36-38).
*Para mais aprofundamento nas diferentes crenças judaicas sobre a Morada dos Mortos: https://accatolica.com/2017/08/20/o-xeol-ea-imortalidade-da-alma/
+ Deus dos Vivos, não dos Mortos +
"Em verdade, em verdade vos digo: se alguém guardar a minha palavra, não verá jamais a
morte." (São João 8,51)
Com a vinda de Cristo ficou claro o destino dos falecidos, o novo testamento é repleto de passagens que demonstra que os justos não mais habitam na Morada dos Mortos e sim na presença de Deus, Cristo foi inclusive pregar aos mortos (I Pd 3,18-19; I Pd 4,6). Vemos isso no Credo Apostólico, aceito até pelas igrejas protestantes tradicionais, como nessa tradução Luterana: “foi crucificado, morto e sepultado, desceu ao mundo dos mortos...”
Ele "levou cativo o cativeiro" (Ef 4,8), ou seja, levou os que esperavam na morada dos mortos para o céu, para que: "vivessem segundo Deus em espírito" (I Pd 4,6) no Paraíso (Lc 23,43).
"Eles jamais poderão morrer, porque são iguais aos anjos e são filhos de Deus, visto serem filhos da ressurreição." (São Lucas 20,36)
A ressurreição é do corpo, mas os anjos são puro espírito, consequentemente, a comparação com os anjos não é restrita apenas ao estado dos justos após a ressurreição, mas desde o instante em que passam a viver espiritualmente com Deus aguardando o dia da ressurreição, no relato de Lucas isso é bem claro: “SÃO (<presente do indicativo...) IGUAIS AOS ANJOS”, e fica ainda mais evidente quando lemos o contexto todo.
"[...] Que os mortos hão de ressuscitar é o que Moisés revelou na passagem da sarça ardente, chamando ao Senhor: Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque para ele, todos VIVEM (presente do indicativo)." (São Lucas 20,38)
Abraão, Isaac e Jacó jamais morreram, "vivem segundo Deus em espírito", sendo então como os anjos no céu (sendo os santos, assim como os anjos no céu, podem interceder assim como eles: (Jó 5,1; Jó 33,23; Zc 1,12). Aos nossos olhos mortais, parecem estar mortos, mas para Deus estão vivos em sua glória, não há morte para aqueles que estão em Cristo.
"Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício bem superior ao de Caim, e mereceu ser chamado justo, porque Deus aceitou as suas ofertas. Graças a ela é que, apesar de sua morte, ele ainda fala."(Hebreus 11,4)
Esses foram considerados justos, são citados também Abraão, Isaac e Jacó (Hb 11,17.20.21) os mesmos que Jesus disse que vivem para Deus, sendo assim, são como Abel, que longe de estar inconsciente no pó da terra, foi considerado justo e “apesar de sua morte, ele ainda fala”, ou seja, vive para Deus, podendo clamar por justiça contra Caim.
"O Senhor disse-lhe: “Que fizeste! Eis que a voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra." (Gênesis 4,10)
Vemos isso acontecendo claramente em Apocalipse, onde vemos os santos mártires (já falecidos) orando*, clamando para que Deus intervenha na terra com justiça contra os seus perseguidores, ou seja, sabem o que acontece aqui, pois sabem que seus perseguidores ainda vivem,seus companheiros ainda vivos são chamados de irmãos (Ap 6,11).
"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: “Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?” (Apocalipse 6,9-10)
*Nota: Alguns podem tentar objetar dizendo que isso não é uma oração, porém isso é claramente uma oração, cujo nome é Oração Imprecatória (Ver: Jr 11,20-Jr 15,15-Jr 18,19 e Sl 35-Sl 59-Sl 70-Sl 79).
Estamos ligados a todos esses justos através do Corpo de Cristo, pelo Espírito Santo; A esse laço fraternal damos o nome de: Comunhão dos Santos*.
*Nota: Muitos fazem a alegação sem pé nem cabeça, de que o termo “santos” só pode se referir aos cristãos vivos. As vezes temos que explicar o óbvio: os santos são todos os salvos, porém, os que partem deste mundo não deixam de ser santos, continuam a ser santos no céu, pois estão com Deus, e “sem santidade ninguém verá a Deus”(Hb 12,14), quem está no céu é santo! (I Ts 3,13-II Ts 1,10-Jd 1,14).
+ Deus lhes preparou uma cidade celestial nessa Nova Aliança +
Os justos não mais habitam nas profundezas do Xeol e sim no céu, na Jerusalém celestial, na presença de Deus.
"Mas a nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo."(Filipenses 3,20)
"Mas não. Eles aspiravam a uma pátria melhor, isto é, à celestial. Por isso, Deus não se dedigna de ser chamado o seu Deus; de fato, ele lhes preparou uma cidade." (Hebreus 11,16)
"Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial, das miríades de anjos, e da Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e de Deus, juiz universal, e dos espíritos dos justos perfeitos, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel." (Hebreus 12,22-24)
Essa nova aliança é a nossa proximidade com a Jerusalém Celestial, a Comunhão com o céus e com seus habitantes, a Igreja Celestial: miríades de anjos, e os espíritos dos justos perfeitos (os santos do céu), e uma relação íntima com Deus, que antes causava terror na antiga aliança (Hb 12,18), mas que agora, graças ao sacrifício de Nosso Senhor Jesus Cristo: “se restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus” (Cl 1,20).
+ Os santos que julgarão o Mundo e o Juízo Particular +
Muitos se perguntam: se os justos já estão no céu, por que existe o Juízo Final? A resposta é um tanto simples; O estado dos santos no céu é algo provisório, pois Deus criou corpo e alma, e a presença dos santos no céu é incompleta, apesar de ser um estado muito melhor que o nosso, eles aguardam a ressurreição da carne, do corpo glorificado.
No Catecismo:
1051. Ao morrer: cada homem recebe, na sua alma imortal, a sua retribuição eterna, num juízo particular feito por Cristo, Juiz dos vivos e dos mortos.
1052. «Nós cremos que as almas de todos os que morrem na graça de Cristo [...] constituem o povo de Deus no além da morte, a qual será definitivamente vencida no dia da ressurreição, quando estas almas forem reunidas aos seus corpos».
1060. No fim dos tempos, o Reino de Deus chegará à sua plenitude. Então, os justos reinarão com Cristo para sempre, glorificados em corpo e alma; o próprio universo material será transformado. Deus será, então, «tudo em todos» (I Cor 15,28), na vida eterna.
Explicando pela Bíblia:
"Não sabeis que os santos julgarão o mundo? E, se o mundo há de ser julgado por vós, seríeis indignos de julgar os processos de mínima importância? Não sabeis que julgaremos os anjos?
Quanto mais as pequenas questões desta vida!" (I Coríntios 6,2-3)
"Que ele confirme os vossos corações, e os torne irrepreensíveis e santos na presença de Deus, nosso Pai, por ocasião da vinda de nosso Senhor Jesus com todos os seus santos!" (I Tessalonicenses 3,13)
"Também Enoque, que foi o oitavo patriarca depois de Adão, profetizou a respeito deles, dizendo: Eis que veio o Senhor entre milhares de seus santos." (São Judas 1,14)
Como os santos poderão julgar até mesmo os anjos, se eles mesmos não forem previamente julgados dignos de tamanha responsabilidade? É esse julgamento que autor de Hebreus fala:
"Como está determinado que os homens morram uma só vez, e logo em seguida vem o juízo." (Hebreus 9,27)
Ele não diz que após a morte vem um sono até a ressurreição dos mortos, ele diz que após a morte vem o juízo, esse é o que a Igreja chama de: Juízo particular.
"Estamos, repito, cheios de confiança, preferindo ausentar-nos deste corpo para ir habitar junto do Senhor [...] Porque teremos de comparecer diante do tribunal de Cristo. Ali cada um receberá o que mereceu, conforme o bem ou o mal que tiver feito enquanto estava no corpo." (II Coríntios 5,8.10) (O “habitar com o Senhor” é fora do corpo, ou seja, não é o juízo final)
Todos os que vierem para julgar os vivos e os mortos, já passaram por esse juízo individual logo após a morte e foram julgados dignos de estar com Cristo, são os santos que já se encontram no céu (na “cidade” Fl 3,20; Hb 12,22). É o que vemos nas palavras de Santo Estevão durante seu martírio, e nas palavras de Cristo ao Bom Ladrão:
"Mas, cheio do Espírito Santo, Estêvão fitou o céu e viu a glória de Deus e Jesus de pé à direita de Deus: Eis que vejo – disse ele – os céus abertos e o Filho do Homem, de pé, à direita de Deus.[...] E apedrejavam Estêvão, que orava e dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito." (Atos dos Apóstolos 7,55-56.59)
"E acrescentou: Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino! Jesus respondeu-lhe: Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso." (São Lucas 23,42-43)
Por isso São Paulo disse: "desejaria desprender-me para estar com Cristo" (Fl 1,23), estar com Cristo é estar no céu, e é do céu que o Senhor virá para julgar os vivos e os mortos, e todos os seus santos virão com Ele, quem estiver vivo no dia, será transformado, tendo o corpo glorificado. Então os que morrem antes desse dia, ficam no céu espiritualmente, alertas e orantes, aguardando o momento de serem ressurretos no corpo que "dorme" no pó da terra.
"Assim também é a ressurreição dos mortos. Semeado na corrupção, O CORPO ressuscita incorruptível." (I Coríntios 15,42)
"Eis que vos revelo um mistério: nem todos morreremos, mas todos seremos transformados, num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta (porque a trombeta soará). Os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados."(I Coríntios 15,51-52)
"Nós, porém, somos cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o
Senhor Jesus Cristo, que transformará nosso mísero CORPO, tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de sujeitar a si toda criatura." (Filipenses 3,21)
Vemos que os cristãos que se foram não vão dormir até o Juízo Final, a ideia de "sono da alma", provavelmente se originou de uma falta de hermenêutica que causou um mal entendimento de expressões como "os que dormem/adormeceu" sem o conhecimento devido da linguagem e do contexto da época. Os cristãos provavelmente usavam essa expressão pelo fato de o próprio Cristo ter prometido que crendo em sua palavra, eles jamais morreriam.
"Disse-lhe Jesus: Teu irmão ressurgirá. Respondeu-lhe Marta: Sei que há de ressurgir na ressurreição no último dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá. Crês nisso?" (São João 11,25)
Marta expressa a opinião de muitos protestantes, que apenas no último dia o irmão dela iria ressurgir, e Jesus corrige a crença de Marta. Muitos tentam fazer a objeção de que Jesus apenas disse isso pois iria ressuscitar Lázaro em seguida. Mas vemos pelo contexto que isso não é verdade, Jesus diz claramente "Todo aquele que vive e crê em mim, jamais morrerá", ele aproveitou a ignorância de Marta para ensinar uma verdade teológica, de que a alma é imortal e quem crê nele, mesmo que tenha morrido, vive para Deus, assim como ele disse sobre Abraão, Isaac e Jacó (Lc 20,38).
Ou será que ele iria ressuscitar imediatamente a todos esses que creem, assim como fez com Lázaro? Obviamente que não! Na pratica o termo "os que dormem" significa simplesmente "aqueles que morreram perseverando na fé". Não indicando o estado da alma imortal que vive no céu, e sim do corpo que vai para o pó da terra (“dorme”) até ser ressuscitado, grosso modo: O Cristão não morre! Ele “se desprende dessa morada para habitar com o Senhor” (Fl 1,23).
+ A nuvem de Testemunhas +
Após o longo louvor dedicado aos heróis da antiga aliança no capítulo 11 de Hebreus, o autor diz que estamos cercados “de uma tal nuvem de testemunhas”, ou seja, esses justos nos observam do alto como uma grande e ativa plateia.
"Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas, desvencilhemo-nos das cadeias do pecado. Corramos com perseverança ao combate proposto, com o olhar fixo no autor e consumador de nossa fé, Jesus." (Hebreus 12,1)
A palavra grega para Testemunhas é μαρτύρων (martýron) essa é a origem da palavra "Mártir" usada no contexto cristão para os que morreram sob tortura sem renunciar a Jesus Cristo.
"Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus e por causa do TESTEMUNHO de que eram depositários. E clamavam em alta voz, dizendo: Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?" (Apocalipse 6,9-10)
Pelo seu testemunho de fé, elas se tornaram Mártires, Testemunhas de Cristo que agora habitam com Ele na Jerusalém Celestial e continuam a clamar a Deus por justiça; Estamos sempre cercados por esses justos, pois agora fazem parte da Nuvem (νέφος) ou Shekinah (הניכש), termo usado pelos Hebreus para descrever a manifestação da presença divina. "Enquanto Aarão falava a toda a assembleia dos israelitas, olharam para o deserto e eis que apareceu na nuvem a glória do Senhor!" (Êxodo 16,10)
"[...] Eis que me vou aproximar de ti na obscuridade de uma nuvem, a fim de que o povo ouça quando eu te falar, e para que também confie em ti para sempre..." (Êxodo 19,9)
"Moisés subiu ao monte. A nuvem cobriu o monte e a glória do Senhor repousou sobre o monte Sinai [...] no sétimo dia, o Senhor chamou Moisés do seio da nuvem." (Êxodo 24,15-16)
"E era impossível a Moisés entrar na tenda de reunião, porque a nuvem pairava sobre ela, e a glória do Senhor enchia o tabernáculo." (Êxodo 40,35)
"E, quando dizia isto, vendo-o eles, foi elevado às alturas, e uma nuvem o recebeu, ocultando-o a seus olhos." (Atos dos Apóstolos 1,9)
"Enquanto ainda assim falava, veio uma nuvem e encobriu-os (Moisés e Elias) com a sua sombra; e os discípulos, vendo-os desaparecer na nuvem, tiveram um grande pavor." (São Lucas 9,34)
"Então, da nuvem saiu uma voz: Este é o meu Filho muito amado; ouvi-o!" (São Lucas 9,35)
Vemos que essa Nuvem que levou Jesus, Moisés e Elias é a Shekinah (הניכש), a presença de Deus, e além de seu Filho, também os justos habitam em sua presença, na glória, Deus fez deles uma Nuvem de Testemunhas (ἡμῖν νέφος μαρτύρων) ao nosso redor.
"Quem poderá, nas nuvens, igualar-se a Deus? Quem é semelhante ao Senhor entre os filhos de Deus?" (Salmo 88,6)
+ Atividade no Céu +
"A cada um deles foi dada, então, uma veste branca e foi-lhes dito, também que repousassem por mais um pouco de tempo..." (Apocalipse 6,11)
Diante do óbvio furo que Apocalipse 6,9 demonstra na escatologia do “sono da alma”, alguns vão tentar alegar que o versículo acima significa que: “-As almas dormiam, mas acordaram um pouquinho, clamaram, e aí eles dormiram novamente!” Um absurdo, pois em nenhum momento se diz que as almas “acordaram” no céu depois de abrir o selo, e sim que elas passaram a clamar por justiça, é nítido que elas sempre estiveram conscientes e no mesmo local. Foi dito que elas repousassem, mas que repouso é esse? Seria o dito “sono da alma”? A resposta é: NÃO!
"Por isso, resta um repouso sabático para o povo de Deus. E quem entrar nesse repouso descansará das suas obras, assim como descansou Deus das suas." (Hebreus 4,9-10)
Ora, se é um descanso "das suas obras, assim como descansou Deus das suas", fica claro que não é um estado inativo de sono, sabemos que Deus não está inconsciente, tampouco inativo, então os que entraram nesse repouso não estão nem inconscientes, nem inativos e sim em um repouso sabático, pois o Sabá (ת ָּב ַׁש) é um dia reservado para descanso, oração e adoração.
Por isso quando Deus diz aos santos que clamam por justiça: “que repousassem ainda um pouco de tempo” (Ap 6,11) Ele não estava mandando ninguém “voltar a dormir”, e sim que voltassem ao repouso sabático (de oração e adoração) até que chegasse a hora de executar o juízo divino.
+ Os Santos são oniscientes? +
É muito comum a objeção de que apenas Deus é onisciente, então só ele poderia ouvir nosso clamor! Com esse conceito limitado de onisciência, muitos acusam a Igreja de idolatria, por supostamente divinizar um ser criado. Na verdade, não é a Igreja que colocam o conhecimento dos anjos e santos em um patamar divino, e sim os acusadores que rebaixam e limitam a onisciência de Deus, e o próprio conceito da onisciência em: "testemunhar muitas coisas ao mesmo tempo", limitando o conhecimento divino ao conhecimento de um "mero" anjo.
Os anjos são descritos na Bíblia como tendo um conhecimento sobrenatural, sabem tudo o que se passa na terra, mesmo não sendo oniscientes, pois contemplam o Pai face a face, podendo então escutar nossos pedidos de oração e interceder por nós.
"Foi para dar a esse assunto uma nova feição que Joab fez isso. Porém tu, ó rei, meu senhor, és tão sábio como um anjo de Deus, para saber tudo o que se passa na terra!" (II Samuel 14,20)
"Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque eu vos digo que seus anjos no céu contemplam sem cessar a face de meu Pai que está nos céus." (São Mateus 18,10)
"A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai." (São Marcos 13,32)
"Quando tu oravas com lágrimas e enterravas os mortos, quando deixavas a tua refeição e ias ocultar os mortos em tua casa durante o dia, para sepultá-los quando viesse a noite, eu apresentava as tuas orações ao Senhor." (Tobias 12,12) (Excluído do cânon protestante)
O próprio São Paulo quando escreve a Timóteo, invoca o testemunho dos anjos do céu, estaria ele dando atributos divinos ao conhecimento de uma criatura?
"Eu te conjuro, diante de Deus e de Cristo Jesus e dos anjos escolhidos, a que guardes essas regras sem prevenção, nada fazendo por espírito de parcialidade." (I Timóteo 5,21)
Como os anjos que estão no céu conhecem o sentimento de um único indivíduo na terra? Estaria a sagrada escritura dando o atributo da onisciência aos anjos?
"Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende." (São Lucas 15,10)
"De Davi. Eu vos louvarei de todo o coração, Senhor, porque ouvistes as minhas palavras. Na presença dos anjos eu vos cantarei." (Salmo 137,1)
"Porque, ao que parece, Deus nos tem posto a nós, apóstolos, na última classe dos homens, por assim dizer sentenciados à morte, visto que fomos entregues em espetáculo ao mundo, aos anjos e aos homens." (I Coríntios 4,9)
São Paulo tinha pleno conhecimento de que era observado do céu por uma grande plateia de espectadores angelicais. O mesmo que vemos com a "Nuvem de Testemunhas", onde toda a Igreja no céu (Hb 12,23), santos e anjos, formam uma grande torcida celestial a nosso favor, mesmo sem possuírem onisciência.
Lembremos que Deus não está contido no universo, o universo está contido em Deus. Estando face a face com Deus, os santos e anjos estão em um grau perfeito de existência, felicidade e conhecimento, os que estão em sua presença, estão fora do tempo e do espaço, e não estão impedidos por nenhum limite físico ou temporal. A isso chamamos de visão beatífica, na qual Deus em sua infinita bondade eleva o homem a um fim sobrenatural, isto é, a participar da sua própria vida divina, por conseguinte: do seu conhecimento divino.
"Pelo contrário, quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito." (I Coríntios 6,17)
"Pois o nosso conhecimento é limitado, e limitada é a nossa profecia [...] Agora vemos por um espelho, confusamente, mas, depois, veremos face a face. Agora meu conhecimento é limitado, mas, depois, conhecerei como sou conhecido." (I Coríntios 13,9 e 12)
"O poder divino deu-nos tudo o que contribui para a vida e a piedade, fazendo-nos conhecer aquele que nos chamou por sua glória e sua virtude. Por elas, temos entrado na posse das maiores e mais preciosas promessas, a fim de tornar-vos por esse meio participantes da natureza divina, subtraindo-vos à corrupção que a concupiscência gerou no mundo."(II São Pedro 1,3-4)
"Caríssimos, desde agora somos filhos de Deus, mas não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isso se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é." (I São João 3,2)
É assim que nossos irmãos no céu, os espíritos dos justos perfeitos, que nos cercam como uma nuvem de testemunhas, podem escutar todos os que recorrem a sua intercessão. Nessa comunhão com Deus, eles tomam conhecimento até mesmo dos eventos futuros (Lc 9,31).
Vemos que São João foi levado ao céu em espírito diante do Trono de Deus (Ap 4,2), e nesse “local” ele consegue escutar o louvor de todas as criaturas da terra mesmo sem ser onisciente:
"E ouvi a toda a criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que estão no mar, e a todas as coisas que neles há, dizer: Ao que está sentado sobre o trono e ao Cordeiro, louvor, honra, glória e poder pelos séculos dos séculos." (Apocalipse 5,13)
+ Transfiguração = Necromancia? +
"Lá se transfigurou na presença deles: seu rosto brilhou como o sol, suas vestes tornaram-se resplandecentes de brancura. E eis que apareceram Moisés e Elias conversando com ele." (São Mateus 17,2-3)
"[...] Eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em glória, e falavam da morte dele, que se havia de cumprir em Jerusalém." (São Lucas 9,31)
Se Jesus deu pleno cumprimento a Lei (Mt 5,17), cumpriu perfeitamente Lei, para que pudéssemos ser libertados dela (Rm 7,6; Cl 2,14). No Monte Tabor (Lc 9,29-Mc 9,3-Mt 17,2), teria ele quebrado a lei (Lv 19,31-Lv 20,27-Dt 18,11) ao “contatar santos mortos”?
Se ele quebrou a Lei, ele traiu suas próprias palavras, se ele o fez, ele não pode ser o Messias, nem a Verdade, nem o Verbo. Logo, apesar de Moisés ter morrido na carne (Dt 34,5) não está morto, e a intercessão dos santos* no céu também não é contato com os mortos (além do que, não invocamos a presença de ninguém), dizer o contrário é blasfemar contra o próprio Cristo.
Também sabemos que nada de impuro entrará no céu (Ap 21,27), ou seja, os santos que estão no céu não podem estar mortos, senão, seriam impuros (Lv 19,31-Lv 21,11-Nm 19,11) e não estariam lá para começo de conversa. Por isso: vivem para Deus, pois ele é Deus dos vivos (Lc 20,38-Mt 22,32-Mc 12,27). Apesar de vulgarmente dizermos que eles morreram, o correto seria dizer que: se desprenderam dessa morada para habitar com Cristo (2 Cr 5,8-Fl 1,23-Jo 8,51).
*Nota: Àqueles que ignoram as diferenças óbvias e irreconciliáveis entre catolicismo e espiritismo e tentam fazer relações e acusações mal-intencionadas e sem fundamento algum: A intercessão dos santos se dá num contexto de intercomunhão espiritual entre: Igreja Triunfante (santos e anjos) e Igreja militante (os cristãos nessa terra) que estão unidas sob a mesma cabeça: Jesus Cristo. Em Cristo, a oração dos salvos pode nos beneficiar. Mas essa intercomunhão não permite qualquer curiosidade ou pretensão de dons mediúnicos. Os santos não podem oferecer nada a nós que em Cristo já não se tenha conquistado. Além da óbvia diferença que ambas as religiões possuem sobre a questão da vida após a morte, a Igreja Católica rejeita a reencarnação e outros dogmas do espiritismo (aliás, como uma religião reencarnacionista teria santos no céu orando por nós?). Como está escrito: “os homens morrem uma só vez, vindo depois o juízo” (Hb 9,27).
Por Habitar na Shekinah (Lc 9,34 Hb 12,1), Moisés e Elias sabiam até mesmo de eventos futuros.
"[...] mas por termos visto a sua majestade com nossos próprios olhos. Porque ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando do seio da glória magnífica lhe foi dirigida esta voz: Este é o meu Filho muito amado, em quem tenho posto todo o meu afeto..." (I São Pedro 1,16-18)
"E eis que falavam com ele dois personagens: eram Moisés e Elias, que apareceram envoltos em glória [...] viram a glória de Jesus e os dois personagens em sua companhia." (São Lucas 9,30-32)
Sabendo que os justos vivem na Glória de Deus, podemos ver essa passagem com outros olhos:
"Disse-me, então, o Senhor: Ainda que Moisés e Samuel estivessem diante de mim, não teria piedade desse povo. Expulsai-o para longe de minha presença! Que se afaste de mim!" (Jeremias 15,1)
Mesmo que Moisés e Samuel já estivessem mortos aos olhos dos homens, assim como Abel, eles ainda podiam clamar a Deus* por justiça e interceder pelo povo.
Nota: Alguns tentam argumentar que Deus estaria apenas colocando uma situação hipotética, mas isso não é verdade. O hipotético implica que a ocorrência real também é possível. Se eu declarasse, por exemplo:
“mesmo se minha esposa estivesse diante de mim e implorasse, eu não limparia o chão”, isso implica que é impossível para ela o ato de implorar naquele momento? Claro que não.
Assim como faziam em vida, o povo de Deus sempre recorreu a intercessão dos homens santos, temiam e respeitavam sua autoridade, alguém os acusaria de “não ir direto ao chefe”? Ou de estar colocando um “reles homem” entre eles e Deus, ou até no lugar de Deus?
"(Aarão) disse a Moisés: Rogo-te, meu senhor, que não ponhas sobre nós este pecado, que nesciamente cometemos [...] E Moisés clamou ao Senhor, dizendo: Ó Deus, eu te rogo, sarai-a." (Números 12,11.13)
"O povo veio a Moisés e disse-lhe: “Pecamos, murmurando contra o Senhor e contra ti.
Intercede junto ao Senhor, para que afaste de nós essas serpentes”. Moisés intercedeu pelo povo..." (Números 21,7)
“Pois eu invocarei o Senhor, e ele enviará trovões e chuvas [...] Samuel clamou ao Senhor, e o Senhor enviou naquele dia trovões e chuvas. Todo o povo temeu sobremaneira o Senhor e Samuel, e todo o povo disse a Samuel: Roga ao Senhor teu Deus pelos teus servos...” (I Samuel 12,17-19)
+ A Grande Intercessão de Jeremias +
A passagem seguinte infelizmente se encontra apenas nas Bíblias Católicas e Ortodoxas, nela é explícita a intercessão dos santos; O guerreiro Judas Macabeus recebe uma visão em sonho (nenhum sonho descrito na bíblia é em vão, pelo contrário, são revelações de Deus. Ver: Gn 28,12-16-I Reis 3,5-15-Mt 1,20-24), neste sonho, lhe é revelado que o sacerdote Onias e o profeta Jeremias (que não estavam mais entre os vivos) permaneciam intercedendo pelo povo de Israel, glorificados, vivos para Deus.
"Depois disso apareceu também outro homem, admirável pela idade e glória, e cercado de grande beleza e majestade: Então, tomando a palavra, disse-lhe Onias: Eis o amigo de seus irmãos, aquele que reza muito pelo povo e pela cidade santa, Jeremias, o profeta de Deus. E Jeremias, estendendo a mão, entregou a Judas uma espada de ouro, dizendo estas palavras ao entregá-la: Toma esta santa espada que Deus te concede e com a qual esmagarás os inimigos" (II Macabeus 15,13-16)
Jeremias era o grande intercessor do povo de Deus, fazia na glória o que fez em vida:
"O rei Sedecias enviou Jucal [...] ao profeta Jeremias, a fim de lhe dizer: Rogai por nós junto ao Senhor, nosso Deus." (Jeremias 37,3)
"E disseram ao profeta Jeremias: Ouve a nossa súplica, e intercede por nós, junto ao Senhor..."(Jeremias 42,2)
O milagre concedido por Deus, pela intercessão de Jeremias, foi uma vitória grandiosa contra os Selêucidas, que possuíam uma força de combate à moda dos Helênicos, abrangendo desde infantaria pesada (as famosas falanges macedônicas), cavalaria e até temíveis elefantes de guerra, um exército muito superior as precárias milícias de Israel. A vitória do povo de Deus foi esmagadora, exatamente como foi predito por Jeremias na visão de Judas Macabeus, tal feito só foi possível pela intervenção do Senhor dos Exércitos, o que confirma a veracidade da visão.
A doutrina católica é exatamente essa mostrada na escritura, os santos não possuem nenhum poder em si mesmos, não fazem milagre nenhum por si só. Quem faz o milagre é Deus, em atenção as orações e méritos de seus servos! O que o Profeta Jeremias fazia em vida, ele e todos os santos continuam a fazer na glória, intercedendo por nós em atenção às súplicas da Igreja.
Estando em comunhão com o corpo de Cristo, nós estamos também em comunhão com a Jerusalém celestial (Hb 12,22), a Igreja Triunfante; E com as testemunhas no céu (Hb 12,1), os anjos e justos que chegaram à perfeição (Hb 12,23), que veem a Deus face a face pela eternidade. Suplicar a intercessão desses vivos que habitam o céu é totalmente distinto de qualquer forma de necromancia, se contar com a ajuda dos servos de Deus fosse idolatria, a súplica do povo a Jeremias, Moisés e Samuel também seria.
Mesmo esse livro não sendo canônico para os protestantes, ele é uma prova contundente de que a intercessão dos santos é algo que vem da cultura hebraica e não de um sincretismo pagão romano, pois o livro foi escrito no século II a.C., e tido como canônico por alguns judeus até hoje.
*7 livros e trechos de outros foram retirados pelos protestantes na "Reforma", para mais informações: https://accatolica.com/2017/08/17/em-defesa-da-versao-grega-i-e-ii-macabeus/
+ Sacerdócio Santo +
Na antiga Israel, havia um único Sumo Sacerdote, era o único que podia entrar no santo dos Santos dos Santos (sem vir a óbito), para fazer a expiação com o sangue do cordeiro.
"Estes realizam um culto que é cópia e sombra das realidades celestes" (Hebreus 8,5)
Este, prefigurou a Jesus Cristo, perfeitíssimo sumo sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (Hb 6,20), e perfeitíssimo Cordeiro de Deus (Jo 1,29), o único que pôde dar a si mesmo em um sacrifício capaz de redimir todo gênero humano que havia caído pelo pecado de Adão.
O templo de Jerusalém, sendo cópia do templo de Deus (Hb 9,24), possuía apenas um SumoSacerdote para fazer a expiação por todo o povo, sendo assim, no céu Jesus é o único Sumosacerdote (Hb 7,26), único Mediador da nova aliança (I Tm 2,5-Hb 9,15-Hb 12,22).
Porém o Sumo-Sacerdote de Israel não trabalhava sozinho. Havia muitos sacerdotes sob o seu comando. É claro que esses não podiam fazer a função única do Sumo-Sacerdote, mas tinham um importante papel no templo, orando pelo povo, e os abençoando.
Os santos aqui neste mundo já são sacerdotes (I Pd 1,9), que oram pelos outros, sob comando do Sumo-Sacerdote, é o corpo que está sob o comando da cabeça (Cl 1,18-Ef 1,10-Ef 5,23).
"vós também vos tornais [...] um sacerdócio santo para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo." (I Pedro 2,5)
"Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual." (Romanos 12,1)
Os antigos cristãos sabiam que esse sacerdócio não cessava, continuava no céu:
Meu espírito se sacrifica por vós, não somente agora, mas também quando eu chegar a Deus.
Eu ainda estou exposto ao perigo, mas o Pai é fiel, em Jesus Cristo, para atender minha oração e a vossa. (Inácio de Antioquia, Epístola aos Trálios 13,3 - 107 d.C.)
Exatamente o que vemos no Apocalipse:
"Por isso, estão diante do trono de Deus e o servem, dia e noite, no seu templo. Aquele que está sentado no trono os abrigará em sua tenda." (Apocalipse 7,15)
"Feliz e santo aquele que participa da primeira ressurreição! Sobre estes a segunda morte* não tem poder, eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e com ele reinarão durante mil anos." (Apocalipse 20,6)
*Nota: A morte eterna, oposta à morte corporal (Ap 2,10-11). Algumas seitas entendem literalmente que haverá duas ressurreições. Mas a primeira ressurreição é o batismo (Rm 6,3-Cl 2,12-Ef 2,5-Mc 16,16), esses que morreram corporalmente (Ap 20,4 fala de almas!), mas já haviam ressuscitado em Cristo no batismo, não morrem (Jo 5,24-Jo 8,51-Jo 11,25), vivem no céu como sacerdotes, enquanto aguardam a segunda ressurreição (a da carne). O reino de mil anos é o tempo entre a morte de Cristo e a parúsia. Mais informações: https://www.youtube.com/playlist?list=PLDcbjTlzmvB0Z_mx1APprmOhY8xBU_2C0
Muitos parecem querer costurar o véu rasgado (Mt 27,51), quando foi reconciliado a paz entre o céu e a terra e todos os seus seres (Cl 1,20-Ef 1,10), como se Jesus não tivesse vencido a morte, e ela ainda prevalecesse para os que já ressuscitaram em Cristo (Rm 6,4-11-Ef 2,8-Rm 8,38), o que vai na contramão de todas as Igrejas apostólicas, que já haviam compreendido essa nova realidade do Reino desde o princípio (Jo 11,25-Jo 8,51-Fl 1,23-Lc 23,43-Lc 17,20).
+ Levitas Celestiais +
Apocalipse significa literalmente: Tirar o Véu (αποκάλυψις, apokálypsis). Um "apocalipse", na terminologia do judaísmo e do cristianismo, é a revelação divina de coisas que até então permaneciam secretas, essa liturgia divina, antes velada, agora se desenvolve explicitamente.
"E, tendo aberto o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um cítaras e taças de ouro cheias de incenso, que são AS ORAÇÕES DOS SANTOS." (Apocalipse 5,8)
"E cantavam um novo cântico, dizendo: Digno és, Senhor, de receber o livro, e de desatar os seus selos; porque foste morto, e nos resgataste para Deus com o teu sangue, de toda a tribo, e língua, e povo, e nação; e nos fizeste para o nosso Deus reis e sacerdotes; e reinaremos sobre a terra." (Apocalipse 5,9)
O termo usado para os anciãos no Apocalipse é πρεσβύτεροι (Presbyteroi), de onde vem o termo Presbítero. O termo é usado para designar tanto os anciãos judeus (Mt 28,12-Mc 14,53-At 4,23-At 25,15) quanto para os anciãos cristãos (At 15,23-Tg 5,14-I Pd 5,1-I Tm 5,17).
"Eis as classes dos filhos de Aarão [...] (que) exerceram as funções do sacerdócio. [...] dividiram os filhos de Aarão por classes, segundo o serviço deles. [...] foram assim distribuídos: para os filhos de Eleazar, dezesseis chefes de família, e, para os filhos de Itamar, oito chefes de família [...] assim, foram eles classificados para seus serviços no Templo..." (I Crônicas 24,1-4.19)
"As doze taças de ouro para o incenso pesavam cada uma dez siclos, segundo o siclo do santuário; o peso total de ouro das taças era de cento e vinte siclos." (Números 7, 86)
"[...] estavam encarregados do canto no templo. Tinham címbalos, cítaras e harpas para o serviço do templo, sob as ordens de Davi, de Asaf, de Iditun e de Emã." (I Crônicas 25,6)
No templo de Jerusalém, os sacerdotes foram divididos em 24 classes, com seus respectivos representantes: 24 chefes; No templo de Deus no céu vemos a figura de: 24 Anciões. É bem evidente a intenção de referenciar o antigo sacerdócio (taças, incenso, cítaras, cantos, classes sacerdotais) para demonstrar a função daqueles que estão no céu. Esses Anciões sacerdotes, chefes das 24 classes (12 Patriarcas e 12 Apóstolos - mais sobre isso adiante) cooperam com o Sumo Sacerdote, adorando a Deus e oferecendo: as orações dos santos!
Outro paralelo com o sacerdócio é na passagem onde Zacarias oferecia incenso com as orações:
"Ora, aconteceu que, ao desempenhar as funções sacerdotais diante de Deus, no turno de sua classe, coube-lhe por sorte, conforme o costume sacerdotal, entrar no Santuário do Senhor para oferecer o incenso. TODA A ASSEMBLEIA DO POVO ESTAVA FORA, EM ORAÇÃO, NA HORA DO INCENSO. "Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume. Vendo-o, Zacarias ficou perturbado, e o temor assaltou-o. Mas o anjo disse-lhe: “Não temas, Zacarias, porque foi ouvida a tua oração..." (São Lucas 1,8-13)
"Adiantou-se outro anjo e pôs-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro na mão. Deram-lhe grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as ORAÇÕES DE TODOS OS SANTOS, sobre o altar de ouro, que está adiante do trono" (Apocalipse 8,3)
A figura do Incenso como uma representação das orações é algo que vem desde o antigo testamento, é inegável que os Anciões estavam mediando as orações da Igreja.
"Suba minha oração como incenso em tua presença, minhas mãos erguidas como oferta vespertina!" (Salmos 141,2)
Assim como Zacarias oferecia o incenso junto as orações do povo, também os Anciões e os anjos exercem esse sacerdócio no céu, apresentando as orações (incenso) que “sobem” da assembleia dos santos (a Igreja na terra e no céu), oferecendo-as no altar do Cordeiro, que é ao mesmo tempo: Vítima e Sumo Sacerdote.
A liturgia que acontecia no Templo de Jerusalém é a prefiguração da que ocorre agora no Templo de Deus, tendo Cristo como Sumo-Sacerdote e Sacrifício Perfeito, e os seus santos auxiliando como sacerdotes, levitas celestiais. A Igreja sempre está unida a essa liturgia divina, cercada de uma Nuvem de Testemunhas (santos no céu) que rezam junto a nós, mediando nossas orações, como bons sacerdotes, em caridade plena, é a totalidade do corpo de Cristo que opera uníssono.
"Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um, de sua parte, é um dos seus membros." (I Coríntios 12,26-27)
"[...] pois são virgens. São eles que acompanham o Cordeiro por onde quer que vá; foram resgatados dentre os homens, como primícias oferecidas a Deus e ao Cordeiro. Em sua boca não se achou mentira, pois são irrepreensíveis" (Apocalipse 14,4-5)
Recapitulando: Estando vivos na presença de Deus, os santos alcançaram a plenitude na caridade, os que ainda militam nessa terra não são esquecidos, na Igreja Triunfante eles dedicam sua eternidade para adorar a Deus e interceder pela parte do corpo que ainda sofre nas tribulações, oferecendo "as orações dos santos" em uma liturgia celestial.
São Paulo sabia bem sobre essas realidades do Reino dos Céus:
"É também por isso que, vivos ou mortos, nos esforçamos por agradar-lhe." (II Coríntios 5,9)
"Sinto-me pressionado dos dois lados: por uma parte, desejaria desprender-me para estar com Cristo – o que seria imensamente melhor." (Filipenses 1,20-24)
"[...] recomendo que se façam preces, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens [...] Porque isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador." (I Timóteo 2,1-3)
"[...] para oferecer sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus, por Jesus Cristo." (I Pedro 2,5)
"[...] oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual." (Romanos 12,1)
"Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra." (Efésios 3,14-15)
"[...] ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos. ..." (Filipenses 2,10)
A Bíblia diz que o culto espiritual (o que inclui intercessão) agrada muito a Deus. Paulo diz que vivo ou morto vai continuar a agradar a Deus. Paulo diz que quer se desprender deste corpo para estar com Cristo, sabemos que Cristo está no céu a direita do Pai (Fl 3,20), então Paulo não pretendia ir dormir na morada dos mortos, e sim ir para o céu, continuar a agradar a Deus.
E no céu ele se mantém agradando e adorando a Deus, com sacrifícios espirituais, oferecendo preces, orações e intercessões pela Igreja, fazendo parte desse sacerdócio santo, dessa família no céu que dobra os joelhos em oração, assim como os que estão aqui na terra.
+ Figuras Apocalípticas +
Os 24 Anciãos aludem aos 24 chefes das famílias sacerdotais (I Cr 24,4). Mas agora os Anciãos são chefes do sacerdócio celestial de Cristo (12 Patriarcas e 12 Apóstolos), composto não mais pela genealogia, mas pelos santos que alcançaram a promessa, na antiga e na nova aliança.
"Respondeu Jesus: “Em verdade vos declaro: no dia da renovação do mundo, quando o Filho do Homem estiver sentado no trono da glória, vós, que me haveis seguido, estareis sentados em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel." (São Mateus 19,28)
"Ao vencedor concederei assentar-se comigo no meu trono, assim como eu venci e me assentei com meu Pai no seu trono." (Apocalipse 3,21) (Se ele já se assentou, os que o seguiram também)
"Feliz o homem que suporta a tentação. Porque, depois de sofrer a provação, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam." (São Tiago 1,12)
"[...] Sê fiel até a morte e te darei a coroa da vida." (Apocalipse 2,10)
"Venho em breve. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa." (Apocalipse 3,11)
"[...] algumas pessoas que não contaminaram suas vestes; andarão comigo vestidas de branco, porque o merecem. O vencedor será assim revestido de vestes brancas..." (Apocalipse 3,4-5)
Vemos no céu justamente os Anciãos coroados (Ver: I Cor 9,25-I Pd 5,4-II Tm 4,8), com vestes brancas e sentados em tronos ao redor de Deus, são sem dúvida homens que alcançaram as promessas de Cristo, exercendo o sacerdócio celeste.
"Imediatamente, fui arrebatado em espírito; no céu havia um trono, e nesse trono estava sentado um Ser. [...] Ao redor havia vinte e quatro tronos, e neles, sentados, vinte e quatro Anciãos vestidos de vestes brancas e com coroas de ouro na cabeça." (Apocalipse 4,2.4)
Cantavam o cântico de Moisés e o cântico do Cordeiro, simbolizando a velha e a nova aliança.
"Cantavam o cântico de Moisés, o servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus Dominador. Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações!" (Apocalipse 15,3)
É descrito também uma Jerusalém no céu, onde os fundamentos são os Apóstolos do Cordeiro, e as portas são as Doze Tribos de Israel, novamente simbolizando a velha e a nova aliança.
Levou-me em espírito a um grande e alto monte e mostrou-me a Cidade Santa, Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus," (Apocalipse, 21,10)
"Tinha grande e alta muralha com doze portas, guardadas por doze anjos. Nas portas estavam gravados os nomes das doze tribos dos filhos de Israel." (Apocalipse 21,12)
"A muralha da cidade tinha doze fundamentos com os nomes dos doze apóstolos do Cordeiro.” (Apocalipse 21,14)
Uma Jerusalém Celestial, onde habitam os Justos "guiados" pelos Doze Apóstolos do Cordeiro,e os "escolhidos" das Doze Tribos de Israel, além dos Anjos, não é exatamente a descrição da Jerusalém Celestial que vemos em Hebreus 12?
"Vós, ao contrário, vos aproximastes da montanha de Sião, da cidade do Deus vivo, da Jerusalém celestial [Essa nova Jerusalém irá descer do céu no último dia, mas por enquanto a existência dela é espiritual, junto de Deus], das miríades de anjos [guardada por anjos, Jesus cita doze legiões de anjos em São Mateus 26,53] e da Igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus [Os salvos do antigo testamento, das doze Tribos de Israel, a porta da qual veio o Messias], e de Deus, juiz universal, e dos espíritos dos justos perfeitos, enfim, de Jesus, o mediador da Nova Aliança [Os membros da família de Deus, os salvos do novo testamento, fundamentados nos doze apóstolos - (Ef 2,20)], e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel." (Hebreus 12,22-24)
Essa Nova Jerusalém que São João vê descer do céu para uma nova terra, é a mesma Jerusalém Celestial, já existente no céu, relatada pelo escritor de Hebreus, onde estão os anjos, e santos.
Também vemos algo interessante acontecer em Apocalipse 18, onde após a queda da Grande Cidade (Jerusalém), um homem clama aos habitantes do céu:
"Exultai sobre ela, ó céu, e vós, santos, apóstolos e profetas; porque Deus, julgando-a, vos fez justiça." (Apocalipse 18,20)
Referência ao cântico de Moisés, onde a justiça divina recai contra os perseguidores do povo:
"Exultai com ele, ó céu, e adorem-no todos os filhos de Deus! Nações, exultai com o seu povo, e afirmem sua força todos os anjos de Deus! Porque ele vinga o sangue dos seus servos..." (Deuteronômio 32,43)
Mais interessante ainda, é que além dos anjos, vemos que agora estão no céu junto a Deus os "santos, apóstolos e profetas", e é bem claro que ele não estava se dirigindo aos que estavam na terra, e sim aos que estavam no céu, pois tiveram as vidas ceifadas pela Babilônia.
"[...], mas eis que sobreveio a tua ira e o tempo de julgar os mortos, de dar a recompensa aos teus servos, aos profetas, aos santos, aos que temem o teu nome, pequenos e grandes, e de exterminar os que corromperam a terra." (Apocalipse 11,18)
"Porque eles derramaram o sangue dos santos e dos profetas..." (Apocalipse 16,6)
"Foi em ti que se encontrou o sangue dos profetas e dos santos, como também de todos os que foram imolados na terra." (Apocalipse 18,24)
Como em uma grande ópera celestial, o céu exulta em resposta e um coro de santos e anjos clamam e adoram a Deus, eles claramente ouviram e reagiram quando se dirigiram a eles!
"Depois disso, ouvi como que um forte rumor de numerosa multidão no céu, aclamando:
Aleluia! A salvação, a glória e o poder são do nosso Deus, porque seus julgamentos são verdadeiros e justos. Sim! Ele julgou a grande Prostituta que corrompeu a terra com sua prostituição e nela vingou o sangue dos seus servos!" (Apocalipse 19,1)
"Então, os vinte e quatro Anciãos e os quatro Animais prostraram-se e adoraram a Deus que se assenta no trono, dizendo: Amém! Aleluia!" (Apocalipse 19,4)
Os mesmos 24 Anciãos que entregam as “taças de ouro cheias de perfume, que são as orações dos santos” são os mesmos que correspondem ao clamor de quem diz: “Exultai, Santos, Apóstolos e Profetas”. São de fato, os santos da velha e da nova aliança que oram por nós.
+ A parábola do Rico e Lázaro +
Na parábola do Rico e Lázaro notamos elementos interessantes, o apelo a intercessão de um justo, a realidade da vida após a morte; Abraão mostrava conhecer não somente Lázaro, mas também o rico. Curiosamente é a única parábola onde Jesus chama alguém pelo nome (Lázaro), mais curioso ainda, é que o Rico estando no fogo do Xeol (Dt 32,22), roga a Abraão que Lázaro seja mandado dos mortos para seus irmãos, mais tarde Jesus ressuscita exatamente um homem chamado: Lázaro! Mas sobre isso nós só podemos conjecturar.
"Ora, aconteceu morrer o mendigo e ser levado pelos anjos ao seio de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. E, estando ele nos tormentos do inferno, levantou os olhos e viu, ao longe, Abraão e Lázaro no seu seio. Gritou, então: Pai Abraão, compadece-te de mim e manda Lázaro que molhe em água a ponta de seu dedo, a fim de me refrescar a língua, pois sou cruelmente atormentado nestas chamas.
Abraão, porém, replicou: Filho, lembra-te de que recebeste teus bens em vida, mas Lázaro, males; por isso, ele agora aqui é consolado, mas tu estás em tormento. Além de tudo, há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que os que querem passar daqui para vós não o podem, nem os de lá passar para cá.
O rico disse: Rogo-te então, pai, que mandes Lázaro à casa de meu pai, pois tenho cinco irmãos, para lhes testemunhar que não aconteça virem também eles parar neste lugar de tormentos.
Abraão respondeu: Eles lá têm Moisés e os profetas; ouçam-nos!
O rico replicou: Não, Pai Abraão; mas, se for a eles algum dos mortos, se arrependerão. Abraão respondeu-lhe: Se não ouvirem a Moisés e aos profetas, tampouco se deixarão convencer, ainda que ressuscite algum dos mortos." (São Lucas 16,19-31)
Vemos que há um abismo de distância entre o Rico e Abraão: "há entre nós e vós um grande abismo, de maneira que os que querem passar daqui para vós não o podem". Estão em duas realidades metafísicas bem distintas, pois o rico até mesmo "levantou os olhos e viu, ao longe" o local onde Lázaro foi levado pelos anjos, assim como nós aqui em vida olhamos aos céus para contemplar a morada de Deus e dos anjos. O Rico então roga ao santo patriarca Abraão por ajuda, vemos que a amizade com os servos de Deus é algo ensinado pelo próprio Cristo.
Outro detalhe interessante, as palavras: "Eles lá têm Moises e os profetas; ouçam-nos!", indicam claramente que Abrahão conhecia o que estava acontecendo ao povo hebreu depois de sua morte; ele sabe de Moisés e da Lei, dos profetas e seus escritos. A visão espiritual das almas dos justos, sem nenhuma dúvida, é maior do que era na terra. Existe a possibilidade dessa passagem não ser uma parábola, e sim um relato (Jesus nunca dá nome aos personagens das parábolas).
Mesmo que seja uma Parábola, o que Jesus está ensinando a seus ouvintes não pode conter erros teológicos, e argumentos por analogias (parábolas) não podem conter princípios falsos.
Jesus não ensinaria uma parábola com conteúdo herético, falso, que não remetesse a crença dos judeus, para os judeus da época de Jesus os patriarcas intercediam por eles! A fé nesse modelo escatológico “protocristão” é histórico e comprovado pela literatura judaica do mundo antigo (IV Macabeus 13,17; Apocalipse de Sofonias 9,2 e 11,1-2; I Enoque 22,1-22; 38,5-11).
+ Este chama por Elias +
Os "espectadores" durante a crucificação de Jesus pensaram que Jesus estava chamando Elias para ajudá-lo. Isso mostra que eles acreditavam que a oração a um santo poderia ser ouvida.
"E, perto da hora nona, exclamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lamma sabacthani? isto é: Deus meu, Deus meu, porque me abandonaste? Alguns, porém, dos que ali estavam, e que ouviram isto, diziam: Este chama por Elias. E logo, correndo um deles, tendo tomado uma esponja, ensopou-a em vinagre, e pôs sobre uma cana, e lhe dava de beber. Porém os outros diziam: Deixa; vejamos se Elias vem salvá-lo... " (São Mateus 27,46-50)
Os “espectadores” não são apresentados como escarnecedores de Jesus, uma vez que um deles deu-lhe de beber (Jo 19,28). A reação deles é curiosa: “vejamos se Elias vem salvá-lo”. Esse verso demostra uma crença comum na época, de que Elias viria em socorro dos justos em apuros.
Ainda hoje, em todo jantar de páscoa, os judeus servem um dos cálices para Elias, também é comum nas sinagogas haver uma cadeira desocupada reservada para o profeta Elias, o qual, segundo a tradição, está presente em todas as circuncisões e protege todas as crianças de algum mal ou perigo físico decorrente da cirurgia. A seguinte oração é feita:
“Este é o Assento de Elias, o Profeta, que ele seja lembrado para sempre. Pela sua libertação, espero, Ó senhor. Eu esperei Sua libertação, Senhor, e realizei Seus mandamentos. Elias, anjo da Aliança, aqui está o seu diante de você; Fique à minha direita e me apoie...”
Essa passagem, assim como a oração do homem rico a Abraão, nos mostra que os judeus aceitavam tais petições como apropriadas e permissíveis (na interpretação mais plausível, embora não absoluta) e não as via como motivo de escândalo. É um argumento especulativo, mas nos mostra que a Bíblia não condena tal pensamento como uma possibilidade teórica.
+ I Timóteo 2,5 - O Único Mediador +
Uma das objeções mais comuns dos protestantes à intercessão dos santos está na má interpretação do seguinte versículo:
"Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem." (I Timóteo 2,5)
O contexto todo dessa passagem (I Tm 2,1-15) é: As Orações devem ser oferecidas em favor dos reis e autoridades pagãs? Resposta de Paulo: Sim! Deus quer que todos eles se salvem e cheguem ao conhecimento da verdade, pelo único meio de salvação, Jesus Cristo, que era desconhecido para esses pagãos que criam em muitos deuses (e nem sabiam que precisavam de salvação), por isso Paulo diz: “Que os homens orem sem ira...”, toda essa passagem trata de cristãos que estavam desconfortáveis em orar pelo bem dos seus algozes, o texto não trata em nenhum momento sobre quem podia mediar a oração dos cristãos a Deus, ao contrário, o texto mesmo diz que os santos devem mediar orações uns pelos outros, incluindo seus inimigos. O contexto totalmente desconexo que muitos protestantes criaram, de que os cristãos estariam aí “rezando para outra coisa” e Paulo estaria corrigindo-os, é uma verdadeira fantasia.
Em momento nenhum a intercessão dos santos vai entrar em conflito com I Timóteo 2,5; basta nós lermos o versículo seguinte, dentro do contexto:
"Porque há um só Deus e há um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem. O qual se deu a si mesmo em preço de REDENÇÃO por todos, para servir de testemunho a seu tempo." (I Timóteo 2,5-6)
E comparar com outras passagens que tratam do mesmo assunto:
"Ao nosso Sumo Sacerdote, entretanto, compete ministério tanto mais excelente quanto ele é mediador de uma aliança mais perfeita, selada por melhores promessas." (Hebreus 8,6)
"Por isso, ele é mediador do novo testamento. Pela sua morte expiou os pecados cometidos no decorrer do primeiro testamento, para que os eleitos recebam a herança eterna que lhes foi prometida. Porque, onde há testamento, é necessário que intervenha a morte do testador." (Hebreus 9,15-16)
"[...] Jesus, o mediador da Nova Aliança, e do sangue da aspersão, que fala com mais eloquência que o sangue de Abel." (Hebreus 12,22-24)
Fica claro que essa mediação única é a da salvação/redenção, por isso o foco no "Jesus Cristo, HOMEM", pois ele fala do sacrifício ("O qual se deu a si mesmo...") que Jesus realizou na carne para ser nosso Salvador. Ele é o único mediador no sentido de ele ser mediador do Novo Testamento entre Deus e a humanidade!
Sendo Jesus, perfeitamente Deus e perfeitamente Homem, Ele está em Deus e Deus está n'Ele (Jo 17,22-23), para que Ele esteja em nós (Gl 2,20), e nós n'Ele por meio do seu Corpo, a Igreja (Cl 1,24). Estando assim o homem e Deus reconciliados por Cristo Jesus!
Ou seja, não temos outra salvação senão pelo sacrifício de Jesus Cristo, participando do seu Corpo. Não há nenhuma outra forma de chegarmos ao céu (At 4,12), nem pela antiga Lei de Moisés, nem por nenhuma outra forma! Apenas pelo sacrifício de Cristo que redimiu o pecado do homem; Perceba que ele não está falando de mediar orações em momento nenhum, ele estaria se contradizendo com o que escreveu alguns versículos antes:
"Acima de tudo, recomendo que se façam preces, orações, intercessões, e ações de graças, por todos os homens [...] Porque isto é bom e agradável diante de Deus..." (I Timóteo 2,1.3)
Assim como os santos no céu, somos mediadores de orações uns pelos outros, e não mediadores da salvação, vemos claramente que Deus se agrada (e deseja) que oremos uns pelos outros, a interpretação que os protestantes criaram de "único mediador" está tão distorcida e longe do que São Paulo estava tratando em sua carta, que para serem coerentes com a própria interpretação, eles não poderiam orar por ninguém e vice-versa.
No entanto, vemos que São Paulo pede para que os cristãos orem uns pelos outros! Mas por que pedir para terceiros orarem por nós se há um único Mediador? Basta que cada um ore por si, uma só vez, “indo direto ao chefe” não é mesmo? Quanta incoerência!
Está claro que a mediação de Cristo não é sobre uma função exclusiva de rogar ao Pai por nós, entendendo dessa forma, o próprio Cristo teria nos deixado sem mediador:
"Naquele dia pedireis em meu nome, e eu não rogarei ao Pai por vós. Pois o mesmo Pai vos ama, porque vós me amastes e crestes que saí de Deus. Saí do Pai e vim ao mundo. Agora deixo o mundo e volto para junto do Pai." (São João 16,26-28)
Jesus é um com o Pai, Rogar a Ele é rogar ao Pai. Jesus permanece o único mediador da nossa salvação, os discípulos, sendo um com ele pela fé e pelo amor, serão amados pelo Pai e o verdadeiro sentido da mediação de Jesus terá atingido o seu efeito em plenitude.
Infelizmente, muitos tratam Jesus como um "office boy" de orações diante do Pai. Isso é um erro, pois Ele é a segunda Pessoa Divina da Santíssima Trindade! A nossa relação não deve ser:
[Indivíduo>JESUS>PAI]. Ela deve ser: [IGREJA>SANTÍSSIMA TRINDADE]. A <Igreja> é o Corpo de Cristo, em que um Indivíduo está incluso entre muitos santos (do céu e da terra) em um só espírito. A nossa relação é de uma família.
"Pelo contrário, quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito." (I Coríntios 6,17)
"...Reunidos num só corpo pela virtude da cruz, aniquilando nela a inimizade. Veio para anunciar a paz a vós que estáveis longe, e a paz também àqueles que estavam perto; porquanto é por ele que ambos temos acesso junto ao Pai num mesmo espírito. Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus." (Efésios 2,16-19)
Podemos ainda argumentar de outra forma: Jesus é o único mediador, mas isto não significa que outros não sejam mediadores como partes da única mediação de Cristo. Por exemplo, Jesus diz que Ele é o único pastor (Jo 10,16); mas Ele confia a Pedro a tarefa de apascentar as suas ovelhas (Jo 21,15). A Bíblia ensina que há muitos pastores (Ef 4,11- At 20,28) apesar de Cristo ser o únicoe grande pastor (Hb 13,20), e também ensina que há apenas um Juiz (Tg 4,12), porém os santos também serão juízes (I Cor 6,2). O ponto aqui é que todos estes outros pastores e juízes trabalham através da instituição do único Pastor/Juiz, Jesus Cristo.
Assim como Ele, sendo eternamente Sumo-Sacerdote (Hb 6,20), não elimina os sacerdotes que trabalham sob seu ministério (Ap 7,15-Ap 20,6), como na antiga aliança, a diferença é que agora o tabernáculo se encontra no céu. Tudo se dá pela participação dos santos no corpo de Cristo.
+ Mediações Diferentes, Intercessão +
"Se perto dele se encontrar um anjo, um mediador entre mil, para ensinar-lhe o que deve fazer, ter piedade dele e dizer: Poupai-o de descer à cova, pois recebi o resgate de sua vida." (Jó 33,23)
Jó declara que os anjos são mediadores junto a Deus (ou intercessores em algumas traduções), e que há milhares deles no céu, que executam uma mediação que nada tem a ver com a salvação, da qual Cristo é verdadeiramente o único mediador. A função mediadora dos anjos é de interagir, auxiliar e proteger os homens.
"E ouviu Deus a voz do menino, e bradou o anjo de Deus a Agar desde os céus, e disse-lhe: Que tens, Agar? Não temas, porque Deus ouviu a voz do menino desde o lugar onde está ."(Gênesis 21,17)
"Porque aos seus anjos ele mandou que te guardem em todos os teus caminhos." (Salmos 90)
"O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem e os salva." (Salmos 33,8)
"Então o anjo do Senhor respondeu, e disse: Ó Senhor dos Exércitos, até quando não terás compaixão de Jerusalém, e das cidades de Judá, contra as quais estiveste irado estes setenta anos? E respondeu o Senhor ao anjo, que falava comigo, com palavras boas, palavras consoladoras." (Zacarias 1,12-13)
O Anjo está claramente intercedendo a Deus pelo povo Hebreu, e a intercessão tem sucesso.
"Até quando tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da terra?" (Apocalipse 6,10)
Vemos que os santos mártires fazem a mesma coisa que o Anjo, mas ao invés de pedirem compaixão, eles pedem que Deus intervenha na terra com justiça. O próprio Cristo nos contou sobre um homem condenado no Xeol que pede a intercessão do Patriarca Abraão.
"O rico disse: Rogo-te então, pai (Abraão), que mandes Lázaro..." (São Lucas, 16,27)
Nos Salmos, vemos o Santo Rei David invocar os anjos para que louvassem o Senhor junto com ele, se dirigir aos habitantes do céu não é algo inédito ou proibido:
"Bendizei o Senhor todos os seus anjos, valentes heróis que cumpris suas ordens, sempre dóceis à sua palavra." (Salmos 102,20)
"Louvai-o, todos os seus anjos. Louvai-o, todos os seus exércitos." (Salmos 148,2)
"Chama para ver se te respondem! A qual dos santos te dirigirás?" (Jó 5,1)
"Anjos do Senhor, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!" (Daniel 3,58)(Excluído do cânon protestante)
"Espíritos e almas dos justos, bendizei o Senhor, louvai-o e exaltai-o eternamente!" (Daniel 3,86) (Excluído do cânon protestante)
"Exultai sobre ela, ó céu; e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus julgou contra ela a vossa causa." (Apocalipse 18,20)
Bendizei, Louvai e Exultai, são todas palavras no modo imperativo, ou seja, o texto demonstra claramente o homem falando aos habitantes do céu com naturalidade, sem isso denotar nenhum tipo de idolatria. Assim como fez o Patriarca Jacó:
"Que o anjo ( ך ָא ְל ַמ ַה) que me guardou de todo o mal, abençoe estes meninos!" (Gênesis 48,16) (O termo hebraico usado é o mesmo que se usa para o anjo intercessor em Zacarias 1,12.)
Esse anjo que o guardou de todo o mal é provavelmente o mesmo que ele anteriormente combateu e pediu a benção em Genesis 32,25 (talvez o seu anjo da guarda). Ao contrário do que alguns absurdamente alegam, esse anjo não é o próprio Deus. Os que o viam, diziam ter visto a Deus (Gn 32,31-Jz 13,22), mas é claro que ninguém nunca viu a face de Deus (Ex 33,20-Jo 1,18).
"[...] lutou com Deus. Lutou com um anjo e prevaleceu, chorou e lhe suplicou." (Oséias 12,4-5)
Essa passagem deixa claro Genesis 32,25. Jacó “lutou com Deus”, porque lutou contra um anjo, emissário de Deus! E não contra Deus diretamente! No mundo antigo, um emissário representava a autoridade do seu superior como se fosse o representado em pessoa. O próprio Jesus demonstra isso quando envia seus discípulos: “Quem vos ouve a mim ouve; e quem vos rejeita a mim rejeita” (Lc 10,16), por isso é dito que Jacó: lutou com Deus e prevaleceu, ou que ele: viu Deus face a face, mesmo que ele não tenha visto, ou lutado com Deus em pessoa.
“Deus enviou [Moisés] como chefe e redentor, com a assistência do anjo que lhe apareceu na sarça. Foi ele quem os fez sair, operando prodígios e sinais na terra do Egito, no mar Vermelho e no deserto, durante quarenta anos. Foi ele, Moisés, quem disse aos filhos de Israel: 'Deus vos suscitará, dentre vossos irmãos, um profeta como eu'. Foi ele quem, na assembleia do deserto, esteve com o anjo que lhe falava no monte Sinai e também com nossos pais; foi ele quem recebeu palavras de vida para nos transmitir.” (Atos 7,35-38)
Em nenhum momento Estevão diz que o anjo era Jesus, pelo contrário, Estevão parece reforçar que era um “mero” anjo, e faz forte distinção entre o passado quando Deus usou os seus anjos para dar a Lei (At 7,51), e agora que Deus mandou o próprio Filho. Ele ainda diz que o Anjo que ia adiante do povo (Ex 23,20) era o mesmo que Deus usou para falar na Sarça (segundo a Septuaginta e a citação no Novo Testamento). São Paulo faz o mesmo:
"Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas.
Ultimamente nos falou por seu Filho, [...] tão superior aos anjos quanto excede o deles o nome que herdou." (Hebreus 1,1-4)
No passado, Deus falou de diversos modos, mas só agora Deus falou por meio do Filho, ou seja, ele não falou por meio do Filho no passado. Toda essa passagem mostra a superioridade do Filho e da nova aliança, sobre a velha aliança e os anjos que apareceram no passado (At 7,53; Hb 2,2), tudo demonstra que no passado o Filho ainda estava oculto, o Anjo do Senhor era de fato o que o nome diz, um Anjo.
“Em outros lugares da Bíblia, quando um profeta fala, é dito que é o próprio Senhor que fala, não porque o profeta seja o Senhor, mas porque o Senhor está no profeta; e assim, da mesma maneira quando o Senhor condescende em falar através da boca de um profeta ou anjo, é o mesmo que quando ele fala por um profeta ou apóstolo, o anjo é corretamente denominado “anjo” se o considerarmos por si mesmo, mas de maneira igualmente correta ele é chamado de "O Senhor", porque Deus habita nele [...] O nome é de quem habita o templo, e não do temploem si.” (Santo Agostinho, Sermones Ad Populum, Classis I, De Scripturis, Sermo VII, § 5)
O Anjo do Senhor não era uma Teofania ou Cristofania, e sim um dos Anjos de Deus, espíritos criados, que serviam como mensageiros, e até de receptáculos (um tipo de “avatar”) para Deus falar quando necessário (como no caso da Sarça), porém vemos que são criaturas distintas de Deus (Gn 24,7-Nm 20,16-II Sm 24,16-Zc 1,12-Zc 3,1). No Novo Testamento isso é mais claro ainda(Jo 5,4-Mt 1,20-Lc 1,11).
Apesar do Anjo do Senhor não ser Jesus Cristo, ele estava ali no velho testamento como uma representação do Filho que um dia viria, uma prefiguração de Deus que se daria a conhecer.
Mesmo sendo criaturas, os anjos resplandecem a glória (Jz 6,22-Tb 12,15) e exercem a autoridade de Deus, tendo o temor e a veneração dos homens (Gn 19,1; Js 5,15).
"Eu enviarei o meu anjo, que vá adiante de ti, te guarde pelo caminho e te introduza no lugar que preparei. Respeita-o, ouve a sua voz e vê que não o desprezes, porque ele não te perdoará se pecares, pois o meu nome está nele." (Êxodo 23,20-21)
São protetores (Sl 33,8-Sl 90-Dn 3,49-Dn 6,22-Is 63,9) e intercessores (Zc 1,12-Jó 33,23) que Deus criou para auxiliar o homem, podendo ser chamados desde os céus (Gn 48,16-Jó 5,1-Sl 102,20).
Apesar do anjo não estar diante de Jacó, ele pede a benção, pois sabia que seria ouvido no céu (E mesmo que alguém teimosamente insista que era Jesus pé-encarnado, Jacó não sabia, e não teria como saber disso). As palavras de Genesis 48,16 são usadas até hoje pelos judeus como uma oração angelical (Hamalach Hagoel- ך ַאל ַמה ל ֵאֹּג ַה ).
Também é comum a oração pela benção dos anjos ministradores ( יכאלמ תרשה ) no começo da liturgia judaica (Shalom Aleikhem- םכילע םולֹ ָּש) e até mesmo uma oração pela proteção (B'sheim Hashem- ם ֵש ְב ם ֵש ַה ) dos Arcanjos: Miguel (לאכימ), Rafael (לאפר), Gabriel (לאירבג) e Uriel
(לאירוא). Alguém acha mesmo que os judeus desconhecem as escrituras e idolatram os anjos?
Sabendo que os anjos claramente intercedem em nosso favor, e que a palavra é dirigida aos habitantes do céu até mesmo de forma imperativa ("Bendizei, Louvai e Exultai"), em que se baseiam os que acusam que a intercessão ("Rogai") seja idolatria? Nossos anjos no céu não contemplam a face de Deus (Mt 18,10)? Não são eles espíritos que servem em nosso benefício?
"Porventura, não são todos eles (os anjos) espíritos servidores, enviados para servir em benefício dos que devem herdar a salvação?" (Hebreus 1,14)
Por que os "espíritos dos justos perfeitos" (Hb 12,23), que nos testemunham do céu e contemplam a face de Deus, estariam impedidos de interceder por nós em orações a Deus?
+ Por que não pedir "direto" a Deus? +
Nós devemos sempre orar a Deus diretamente, foi por isso que Jesus nos ensinou a Oração Dominical, o Pai Nosso. Pedir a intercessão dos santos não significa que deixemos de pedir a Deus diretamente, e sim que além de nossas preces ao Pai, pedimos que os justos no céu orem por nós, assim como pediríamos a qualquer membro da Igreja, como disse Santo Tomás:
“oramos aos santos, [...] não para que Deus possa por meio deles conhecer nossas petições, mas que nossas orações possam ser eficazes por meio de suas orações e méritos.”
Essa relação de caridade entre os membros da Igreja é amplamente incentivada na escritura:
"O Senhor está longe dos maus, mas atende à oração dos justos." (Provérbios 15,29)
"Confessai os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros para serdes curados. A oração do justo tem grande eficácia." (São Tiago 5,16)
"Rogo-vos, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo e em nome da caridade que é dada pelo Espírito, combatei comigo, dirigindo vossas orações a Deus por mim," (Romanos 15,30)
"Por fim, irmãos, orai por nós, para que a palavra do Senhor se propague e seja estimada, tal como acontece entre vós." (II Tessalonicenses 3,1)
"Orai por nós. Estamos persuadidos de ter a consciência em paz..." (Hebreus 13,18)
"Irmãos, orai também por nós." (I Tessalonicenses 5,25)
"Com orações e súplicas de toda a sorte, orai em todo o tempo, no Espírito e para isso vigiai com toda perseverança e súplica por todos os santos. Orai também por mim." (Efésios 6,18-19)
"Ele nos livrou e nos livrará de tamanhos perigos de morte. Sim, esperamos que ainda nos livrará se nos ajudardes também vós com orações em nossa intenção. Assim essa graça, obtida pela intercessão de muitas pessoas, lhes será ocasião de agradecer a Deus a nosso respeito." (II Coríntios 1,10-11)
Se a oração dos nossos irmãos que ainda caminham pela fé tem tanto valor, imagine então o que pode ser obtido pela nossa oração unida à de um justo no céu, ou de uma multidão deles, pela intervenção de muitas pessoas que chegaram à perfeição e estão eternamente na presença de Deus, em pleno conhecimento e caridade. Isso é algo lógico que não fere em nada a escritura:
"Porque, como o corpo é um todo com muitos membros, e todos os membros do corpo, embora muitos, formam um só corpo, assim também é Cristo [...] Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele." (I Coríntios 12,12.26)
"Assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro." (Romanos 12,4-5)
"Pelo contrário, quem se une ao Senhor torna-se com ele um só espírito." (I Coríntios 6,17)
"Pois estou persuadido de que nem a morte [...] nos poderá separar do amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor." (Romanos 8,38.39)
Somos um só corpo, que nem a morte separa, unidos em um só espirito.
"Consequentemente, já não sois hóspedes nem peregrinos, mas sois concidadãos dos santos e membros da família de Deus." (Efésios 2,19)
"Por esta causa dobro os joelhos em presença do Pai, ao qual deve a sua existência toda família no céu e na terra." (Efésios 3,14-15)
"para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho no céu, na terra e nos infernos..."
(Filipenses 2,10)
Somos membros de uma só família, na terra e no céu.
"Os fariseus perguntaram um dia a Jesus quando viria o Reino de Deus. Respondeu-lhes: “O Reino de Deus não virá de um modo ostensivo. Nem se dirá: Ei-lo aqui; ou: Ei-lo ali. Pois o Reino de Deus já está no meio de vós”." (São Lucas 17,20)
"E acrescentou: “Jesus, lembra-te de mim, quando tiveres entrado no teu Reino!”. Jesus respondeu-lhe: “Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso”." (São Lucas 23,43)
O Bom Ladrão já está no Reino, o Reino já está no meio de nós, logo, ele está “entre” nós.
"Eu vos digo que do mesmo modo haverá mais alegria no céu por um só pecador que se arrepende..." (São Lucas 15,7)
"Se um membro sofre, todos os membros padecem com ele; e se um membro é tratado com carinho, todos os outros se congratulam por ele." (I Coríntios 12,26)
No Reino dos céus eles não são alheios a nossa tribulação, torcem para nosso sucesso.
"Desse modo, cercados como estamos de uma tal nuvem de testemunhas..." (Hebreus 12,1)
"Vós, ao contrário, vos aproximastes [...] dos espíritos dos justos perfeitos... (Hebreus 12,24)
Os justos que estão perfeitos no Reino dos céus, nos cercam e nos testemunham, e como “a oração do justo tem grande eficácia”, a oração deles é um grande auxílio aos cristãos.
Recapitulando: A escritura diz que somos membros de um só corpo, uma só família, no céu e na terra, vivendo em comunhão, nem a morte separa esse vínculo de caridade, o céu está atento a cada um de nós, como se estivessem entre nós. A escritura também diz para as comunidades da Igreja orarem umas pelas outras. Logo, pedimos que ore por nós não só os santos da Igreja militante (a família na terra), mas também os que já estão perfeitos, os santos da Igreja triunfante (a família no céu). Porque somos todos um só corpo, um só espírito em Cristo Jesus!
"Ele nos manifestou o misterioso desígnio de sua vontade, [...] desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra." (Efésios 1,9-10)
"Ele é a Cabeça do corpo, da Igreja. Ele é o Princípio, o primogênito dentre os mortos e por isso tem o primeiro lugar em todas as coisas. Porque aprouve a Deus fazer habitar nele toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, por intermédio daquele que, ao preço do próprio sangue na cruz, restabeleceu a paz a tudo quanto existe na terra e nos céus." (Colossenses 1,16-20)
Se na escritura vemos: “Exultai sobre ela, ó céu, e vós, santos, apóstolos e profetas”.
Nós, tranquilamente dizemos: “Rogai por nós, ó céu, e vós, santos, apóstolos e profetas”.
+ Culto devido aos Santos, Louvor e Imitação +
“A Cristo, nós O adoramos, porque Ele é o Filho de Deus; quanto aos mártires, nós os amamos como a discípulos e imitadores do Senhor: e isso é justo, por causa da sua devoção incomparável para com o seu Rei e Mestre. Assim nós possamos também ser seus companheiros e condiscípulos!” (Martírio de Policarpo 17,3 - 155 d.C.)
Os cristãos sempre souberam dar valor aos seus heróis, sem que isso tirasse qualquer coisa da Glória de Cristo, pelo contrário, essa pratica engrandece ao Senhor. Mesmo assim, muitos usam versículos como o seguinte para acusar a Igreja de Idolatria, ou de tirar o “foco” de Cristo:
"Eu sou o Senhor, esse é meu nome, a ninguém cederei minha glória, nem a ídolos minha honra." (Isaías 42,8)
Porém esquecem de que o texto fala de falsos deuses, demônios que queriam roubar a glória do nosso Deus. Vemos em outras situações que o Senhor deu sim a sua glória a outros.
"Porque o Senhor Deus é nosso sol e nosso escudo, o Senhor dá a graça e a glória. Ele não recusa os seus bens àqueles que caminham na inocência. " (Salmo 83,12)
"Porque ele é tido por digno de tanto maior glória do que Moisés, quanto maior honra do que a casa tem aquele que a edificou." (Hebreus 3,3)
Jesus é digno de MAIOR GLÓRIA, ou seja, os santos também são dignos de Glória!
"Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu. Neles sou glorificado." (São João 17,10)
"Dei-lhes a glória que me deste, para que sejam um, como nós somos um." (São João 17,22)
"Para que seja glorificado o nome de nosso Senhor Jesus em vós, e vós nele, segundo a graça de nosso Deus e do Senhor Jesus Cristo." (II Tessalonicenses 1,12)
E na glória dos seus servos Ele é glorificado, tudo vem d'Ele: “Porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Ele mesmo "realiza em nós o querer e o executar" (Fl 2,13).
"[...] Estou pregado à cruz de Cristo. Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim..."(Gálatas, 2,19-20)
Louvamos os santos porque Cristo viveu (e vive) neles, veneramos Cristo em seus membros, eles são exemplos de conduta cristã, heróis da fé, que deram a vida por Deus. Quando alguém elogia a obra, está elogiando também o autor dela, os santos são obras de Deus, e toda obra dos santos vem de Deus (Jo 15,5). Não existe concorrência entre um e outro.
Para alguns irmãos separados isso é abominável, é “colocar o homem no centro”, e até idolatria.
Mas vemos que esse conceito é sim bíblico, as criaturas de Deus podem e devem ser louvadas.
"Judá, teus irmãos te louvarão. Pegarás pela nuca os inimigos; os filhos de teu pai se prostrarão em tua presença" (Gênesis 49,8)
"Façamos elogio dos homens ilustres, que são nossos antepassados, em sua linhagem. O Senhor deu-lhes uma GLÓRIA abundante, desde o princípio do mundo, por um efeito de sua magnificência" (Eclesiástico 44,1-2) (Excluído do cânon protestante)
"Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situa-da sobre uma montanha, nem se acende uma luz para colocá-la debaixo do alqueire, mas sim para colocá-la sobre o candeeiro, a fim de que brilhe a todos os que estão em casa. Assim, brilhe vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem vosso Pai que está nos céus" (São Mateus 5,14-15)
Os santos são verdadeiros faróis para o mundo que jaz no maligno. A luz da lua vem do Sol, sem o Sol a lua não é nada. Nós reconhecemos nos santos a Glória de Deus, isso não ofusca a sua glória, isso à magnifica, a razão de ser dos santos é o Senhor.
"E Maria disse: “Minha alma magnífica o Senhor, meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador, porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, todas as gerações me proclamarão bem-aventurada. porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo." (São Lucas 1,46-48)
Todas as gerações (de verdadeiros cristãos) proclamarão as glórias de Maria (que foram dadas por Deus), ao louvarmos sua bem-aventurança e as maravilhas que Deus realizou nela, nós louvamos, magnificamos e glorificamos o próprio Deus.
A catequese paulina é explicita nesse quesito, imitar aos que imitam/imitaram o Senhor, ter eles como exemplo de vida e conduta.
"E vós vos fizestes imitadores nossos e do Senhor, ao receberdes a palavra, apesar das muitas tribulações, com a alegria do Espírito Santo" (I Tessalonicenses 1,6)
"Irmãos, sede meus imitadores, e olhai atentamente para os que vivem segundo o exemplo que nós vos damos." (Filipenses 3,17)
"Por isso, vos conjuro a que sejais meus imitadores." (I Coríntios 4,16)
"Tornai-vos os meus imitadores, como eu o sou de Cristo." (I Coríntios 11,1)
"e que, longe de vos tornardes negligentes, sejais imitadores daqueles que pela fé e paciência se tornam herdeiros das promessas." (Hebreus 6,12)
"Lembrai-vos de vossos guias que vos pregaram a Palavra de Deus. Considerai como souberam encerrar a carreira. E imitai-lhes a fé." (Hebreus 13,7)
Imitai a fé dos que “encerraram a carreira”, ou seja: se lembrem e imitem o exemplo dos santos que já se foram, e que pela fé alcançaram a promessa do céu , assim como foi (e ainda é) louvado a memória dos falecidos heróis do velho testamento (Eclo 44,1-II Sm 1,17-II Cr 35,25-II Cr 16,14-II Cr 32,33-Jr 34,5-II Reis 23,17-Mt 23,29-Lc 11,47-Hb 11,1-40).
O autor de Hebreus passa todo um capítulo louvando os santos que: “pela fé alcançaram a promessa”, e mais de uma vez na epistola nós somos chamados a imita -los, e para imita-los, precisamos conhecê-los, falar deles não é “tirar o foco” de Deus, é cumprir sua palavra.
+ Conclusão +
Vemos que os que se foram estão na presença de Deus, não estão mortos como na crença veterotestamentária, eles estão mais vivos do que nós, na presença de Deus, em eterna adoração e louvor. Ele é o “Deus de Abraão, Deus de Isaac, Deus de Jacó. Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque para ele, todos vivem”. E se eles estão vivos para Deus, estão vivos para nós através d'Ele como membros de Seu único corpo. Eles podem e devem ser lembrados e louvados como grandes exemplos de Fé, Esperança e Caridade; Homens e mulheres que seguiram a Cristo mesmo que isso custasse a própria vida, Nosso Senhor vive neles, e eles vivem eternamente em Cristo.
A intercessão dos santos não coloca ninguém entre nós e Deus, certamente não rezamos aos santos em vez de rezar a Deus. Rezamos por meio dos santos a Deus em Cristo. Em última análise, não são os santos que respondem às nossas preces; o que eles fazem é ecoá-las com mais profundidade, clarividência e amor.
"Miríade de anjos do Senhor e justos que chegaram à perfeição, rogai por nós, para que sejamos dignos das promessas de Cristo. Amém!"
+ Viva Cristo Rei +
Bibliografia:
Bíblia Vulgata, traduzida e anotada para o português pelo Padre Matos Soares (9ª edição).
Bíblia de Jerusalém, traduzida diretamente dos originais pela ‘École biblique de Jérusalem’ (1ª edição).
Bíblia Ave Maria (versão online https://www.bibliacatolica.com.br/ )
Catecismo da Igreja Católica, Parágrafos: 954, 955, 956.
Introdução: Adaptação do texto: http://jimmyakin.com/praying-to-the-saints
São Tomás de Aquino, Suma Teológica II-II Questão 83, Artigo 4 e 11.
Scott Hahn, Santos e Anjos: Um guia bíblico para a amizade com os que estão junto de Deus.
Scott Hahn, O Banquete do Cordeiro: A Missa segundo um convertido.
Youtube, Canal: Bíblia, Livros e Café
Artigos: Blog ACCATÓLICA: https://accatolica.com/
Cultura Judaica:
https://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/144123/jewish/The-Chair-of-Elijah-andWelcoming-the-Baby.htm
https://www.chabad.org/holidays/passover/pesach_cdo/aid/504495/jewish/Why-Is-Elijah-theProphet-Invited-to-the-Seder.htm
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