Autor: Caio Silas

Campo Maior, quantos cantos verteram?
Tantas elegias à tua homenagem.
Associando-te ao brio do vaqueiro,
Ao destemor e à felicidade.
Chega-me o azo em poder, afinal,
Retribuir-te o amor fraternal.

Canto à cidade, bem mais que a beleza.
Visto de os elos a sobrepujar;
Laços nos cingem, do amor à tristeza,
Plaga à que a vida me dera por lar!
Musa, a facúndia, conclamo-te, excita,
Que a placidez em meu peito sopita.

Deste-nos terra de solo laranja,
Longas planícies de um verde afamado,
Flora que os caules cinzentos esbanja
Da carnaúba, teu símbolo amado,
Cujas ramagens na forma da estrela
Constelações verdejantes sobeja.

Sob o teu sol fez crescer imponentes,
Bravos varões, tanto faz de renome
Quanto ignotos, conquanto valentes,
Mas são as damas qu’elevam teu nome.
Foste-os nutriz por de tudo provê-los,
Nunca os negaste qualquer dos apelos.

Campo maior, que contém meus amores!
Tu, cuja dor em meu peito conhece!
Onde, às calçadas, serões tentadores
Vidas enredam conforme apetece.
Queira-te ao menos a prole aguerrida
Retribuir teus favores em vida.


Cabe-me agora exceder o limite do verso entoado,
opor, às rimas da ode, clamor mais tenaz, desprendido.
Quebra-se a clave do verso, que aquelas fazer não ensejam
tanta justiça, em dizeres, ao burgo de nossos patronos.
Terra preclara, teus ventos da tarde as folhas solevam;
Alvas divinas espraiam-se a grande n’ocaso vergadas.
Puro espetáculo, finais estertores d’O Lume potente,
lastros laranjas que choram à luz pelo céu devorada.
Só pra o dia tornar a romper as candeias do páramo,
e a névoa branca ascender, sob o açude, que à noite a expira,
alcandorar-se-lhe o cimo do monte no azul da alvorada,
Deus, que portento nos deste a gozar nesta tão breve vida!
Mas nossa terra qu’enleva padece há muito agastada.
Triste me é ver-lha servindo de espólio a vis dinastias,
súcias solertes que ao povo rapinam e a terra vergastam,
quais parasitas, aninham, de todo, o corpo cruento.
Guinda-te, ó gente! Sus, meus conterrâneos, ao prélio arrojai-vos!
Face a estas hostes, qu’encharcam a gleba de almas fedidas.
Caso hasteemos o brio e a honra outra vez, qual soía,
Campo Maior nos será plenamente o alento da vida.

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